São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Antone's Blues traz Steve James e Teddy Morgan

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os blueseiros desamparados com a suspensão do festival Nescafé & Blues ganham um prêmio que vai além do consolo. Começa hoje, na casa paulistana Bourbon Street, a (espera-se) primeira edição do Antone's Blues Festival (veja programação no quadro ao lado).
Mixando músicos contratados pela gravadora texana com os da gravadora Eldorado (representante da Antone's no Brasil), o festival traz pelo menos duas atrações de peso: o violonista Steve James e o guitarrista Teddy Morgan.
O primeiro vem ao Brasil mostrar as músicas do genial "Art & Grit", CD no qual ele esquadrinha todas as variantes blueseiras que circulavam pelos EUA no final do século passado e começo deste.
Nascido em Nova York e radicado em Austin (capital do Texas), James é um tradicionalista que dispensa as tomadas, mas não torce o nariz para inovações.
Falando à Folha por telefone, ele disse que a música eletrônica tem seu lado bom, mas que ainda aposta nos instrumentos tradicionais. "Deus abençoe o sujeito que inventou o 'Acústico MTV'."
James pegou um violão pela primeira vez aos 12 anos. A partir da coleção de discos paterna, nasceu seu amor pelo blues rural de Leadbelly e Josh White.
Foi autodidata até os 14 anos, idade em que passou a ter aulas com Joseph Williams, um vizinho nova-iorquino. Experimentou -e desaprovou- a guitarra elétrica.
"Art & Grit" é seu terceiro disco. É um trabalho indispensável para todo o blueseiro que quer ter uma idéia de onde veio a música que ouve hoje.
Transição
Menos comprometido com a tradição, Teddy Morgan vai mostrar no seu show o período de transição que atravessa.
Confundido com um músico de rockabilly em seu primeiro disco ("Ridin' in Style", de 94), o guitarrista de 26 anos extrapola os ditames blueseiros em "Louisiana Rain", CD lançado pela Antone's neste ano.
O trabalho funde o blues mais ortodoxo, um folk de sabor dylanesco e algumas faixas que se equilibram na tênue linha que separa o blues do rock.
"Sou um compositor que tenta fundir todos os tipos de música que ouço e gosto", disse Morgan por telefone à Folha.
Assim como James, Morgan começou a gostar de música em casa. A diferença é que a coleção de discos dos Morgan era propriedade da mãe do guitarrista.
"A discoteca dela misturava Bob Dylan com Lightning Hopkins. Essa foi minha iniciação musical", revela o guitarrista que diz ter passado os últimos dez anos ouvindo blues, mas que está colocando outros tipos de música para o seu CD-player ler.
"Tenho ouvido muito Steve Cropper (guitarrista que ajudou a forjar a soul music) e a música da gravadora Stax."
Completam o leque de atrações internacionais os guitarristas Matthew Robinson, Johnny Moeller e Tyrone Vaughan (sobrinho de Stevie Ray), além do gaiteiro Lazy Lester e do grupo The Kellers.
Blues nacional
O lado brasileiro estará representado pelo peso quase roqueiro da banda Irmandade do Blues e pela dupla Big Gilson e Alan Ghreen -integrantes do Big Allanbik-, que mostra ser possível fazer blues acústico consistente abaixo da linha do Equador.
A única ausência sensível, levando-se em consideração o elenco da Eldorado, é a do guitarrista Nuno Mindelis. Até os texanos iriam gostar de ouvi-lo.
Depois dos shows estão programadas jams com os músicos que participam do festival.
Despretensioso, o Antone's Blues Festival tem tudo para vingar. É o festival certo no lugar certo. Basta apenas que a turma que se aglomera no bar do Bourbon não resolva colocar a conversa em dia na hora dos shows, prática tão inconveniente quanto constante.

Show: Antone's Blues Festival
Quando: de hoje a quinta (veja programação no quadro ao lado)
Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema, tels. 5561-1643 e 542-1927)
Quanto: de R$ 20 a R$ 40

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