São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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A ÍNTEGRA DO DISCURSO DE FHC

Eu me permitiria iniciar com uma breve explicação das razões pelas quais pedi que nós nos reuníssemos hoje. Nos momentos em que os interesses do país e do povo estão ameaçados, o sentimento de urgência e a firmeza das decisões devem marcar o comportamento dos governantes, sejam eles do Executivo ou do Legislativo. A história não perdoa quem vacila nesses momentos e nem quem posterga decisões.
Tive que tomar, como o país todo sabe, decisões duras, mas necessárias, para assegurar o valor do real e a confiança que nós todos temos nele. A determinação do governo, sustentada pela opinião pública, ao manter o valor do real, assegurou o essencial: o valor dos salários do povo e a capacidade do país de continuar atraindo investimentos para garantir o emprego. O preço disso foi a diminuição momentânea das reservas em dólares. Já começamos a recompô-las. O Banco Central voltou a comprar dólares com os reais que tinha obtido das vendas anteriores dos seus dólares. Também pagamos o preço de uma forte elevação da taxa de juros. Agora, o importante é manter o rumo, e o rumo está claro: é a continuidade das reformas, a aceleração das exportações e a ação do governo em várias áreas, notadamente no financiamento da agricultura e da construção civil, a retomada dos bens de capital e a continuidade dos investimentos básicos. Isso está permitindo ao Brasil ganhos de produtividade e redesenho do parque produtivo e de serviços. Com essa determinação, será possível manter a confiança no real e baixar a taxa de juros tão logo quanto possível.
Senhores presidentes do Senado, da Câmara, senhores líderes, eu convoquei esta reunião, para estreitar os laços entre o Executivo e o Legislativo, entre o governo e a sua base que aqui está representada pelos senhores. Não é o momento para cobranças nem para queixumes. O país precisa de união e de confiança. É momento de entendimento. A ênfase, portanto, deve ser na harmonia e não na divisão entre os poderes.
Já fizemos muito juntos, e convém neste momento repetir, que nós fizemos muito juntos. Eu me recordo de que, aqui nesta sala, recém-nomeado ministro da Fazenda, fiz uma exposição ao conselho de ministros, no tempo do presidente Itamar Franco, para descrever a situação do país. Aqueles que participaram dessa reunião hão de se lembrar do quadro sombrio. Mas, naquele momento, só tínhamos uma determinação: combater a inflação. E poucos acreditavam na viabilidade desse combate. Descrevemos o quadro, tomamos as decisões, discutimos, tivemos o apoio de muitos dos que aqui estão e dos partidos que aqui estão representados. Apelei, naquela ocasião, também à oposição. Expliquei a oposição por que era necessário combater a inflação. Os esforços, nesse aspecto, foram baldados. Mas nós fomos capazes de combatê-la. Fomos capazes de reconstruir os canais de investimento, a confiança no Brasil. E era uma época extremamente difícil. Ora, para quem já fez tanto, para um país que já percorreu um caminho tão longo, tão largo que já recobrou a confiança em si, não nos cabe, mais uma vez, outra decisão, senão a de mantermos as conquistas já obtidas e avançarmos mais na direção de novas conquistas.
Já apelei, de novo, desta vez, às oposições. Os ouvidos surdos de alguns vêem, em qualquer bom propósito, manobra eleitoral. Estiolam-se em conjecturas vãs os que não têm a grandeza para admitir que, se um presidente, a menos de um ano das eleições, pede austeridade e leva a economia ao sacrifício da alta de juros, ele o faz porque crê no Brasil, confia no povo e no patriotismo dos senhores que sustentam o governo. E todos só pensamos no interesse do país e do povo. Não temos outro pensamento.
Estou certo de que, desta reunião, sairão os planos de ação para, ainda neste ano, darmos continuidade e conclusão a algumas reformas básicas e a um conjunto de leis que estão em tramitação e que ajudarão o Brasil a tornar-se mais forte para enfrentar os vendavais que vêm de fora.
Esta é a razão desta reunião. É uma reunião em que quero transmitir ao país confiança, serenidade, certeza de que nós temos rumo, que esse rumo é sustentado e de que essa harmonia entre os poderes será a marca deste momento, para que retomemos tão logo que possível o nosso ritmo de transformação, em benefício do nosso povo. Muito obrigado.

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