São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zagallo barra Edmundo e chama Muller

MÁRIO MAGALHÃES e SÉRGIO RANGEL

MÁRIO MAGALHÃES; SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Técnico diz que convocação do vascaíno para a seleção seria prêmio à cotovelada dada em goleiro argentino

Artilheiro do Campeonato Brasileiro com 24 gols (antes do jogo de ontem do Vasco), na iminência de romper o recorde da competição (os 28 gols marcados por Reinaldo em 1977) e no auge da sua carreira, o atacante Edmundo foi rejeitado ontem pelo técnico da seleção brasileira, Mario Jorge Zagallo.
O vascaíno está fora do amistoso da seleção contra o País de Gales, dia 11, em Brasília.
O jogo marcará a volta à seleção do atacante santista Muller, após mais de três anos de afastamento. Ele não era convocado desde a Copa de 94, nos EUA, quando participou como reserva.
Zagallo vetou Edmundo por considerá-lo incontrolavelmente indisciplinado. Mesmo assim, ele seria chamado, não fosse a cotovelada que acertou no goleiro Burgos (River Plate) na quinta-feira, pela Supercopa dos Campeões.
O técnico havia condenado anteriormente a agressão do atacante ao lateral-esquerdo boliviano Cristaldo, na final da Copa América deste ano, "que poderia ter posto a perder o título do Brasil, caso fosse expulso".
"Se eu convocasse Edmundo, estaria premiando a indisciplina", disse, ontem, Zagallo. "Ele deixou a desejar mais uma vez. Não vou premiá-lo, trazendo interrogações para a seleção e para mim."
Ao responder perguntas que citavam o atacante como o melhor em atuação no país, afirmou: "Quero o melhor, mas o melhor com disciplina. Não adianta ser o melhor do mundo e botar uma Copa a perder. Sem disciplina, vira baderna. Se eu premio a indisciplina, fico sem moral".
Zagallo disse que pode vir a convocar novamente Edmundo, mas que o jogador precisa mudar.
"O ciclo de Edmundo na seleção não está terminado. As portas continuam abertas para ele. A não-convocação é um puxão de orelhas, vai abrir mais uma vez o cérebro dele."
O técnico voltou a recomendar que o jogador se trate com um psicanalista (Edmundo tem conversado com a psicóloga do Vasco).
"Antes da cotovelada, Edmundo estava convocado. Ele está sendo punido pelo que fez quinta-feira. Ele necessita de apoio."
"Aquilo foi o subconsciente dele. Não sou psicanalista, mas sei que ele tem uns rompantes. Edmundo fica sempre como um ponto de interrogação."
Temor
Zagallo manifestou temor de ser apontado como o culpado pela convocação de Edmundo, no caso de o atacante ser expulso e prejudicar a seleção. "Se ele for expulso, quem será condenado? Se acontecer uma expulsão, a responsabilidade será toda minha."
O treinador disse que já convocou jogadores de que não gosta. "Chamei para mostrar que não podiam jogar na seleção", afirmou, sem confirmar se se referia a Djalminha e Paulo Nunes.
Foi a entrevista mais tensa de Zagallo desde que voltou a dirigir a seleção, em 1994. Falando alto, às vezes aos gritos, ele defendeu passionalmente o veto ao atacante do Vasco.
O técnico se irritou ao ser lembrado de que, em 1993, Muller fugiu da concentração da seleção, em Teresópolis (RJ), quando estava em tratamento médico, para ir a uma boate no Rio.
"Como é que alguém pode comparar o que aconteceu há quatro anos com o que acontece sempre com o Edmundo?", retrucou.
"Convoquei Muller pela boa fase dele, mas não estou afirmando que ele será titular contra o País de Gales."
O meia-atacante Rivaldo (Barcelona) será testado no ataque. O outro titular poderá ser Dodô, Donizete ou Muller.

Texto Anterior: O que ver na TV
Próximo Texto: Avante cala, sorri e brinca
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.