São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Coppola se prepara para 'o' filme de nossa época

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A NAPA VALLEY (EUA)

Mesmo após 19 filmes, cinco Oscar e duas Palmas de Ouro no Festival de Cannes, o diretor Francis Ford Coppola, 58, soa como um iniciante ao expressar seu maior sonho.
"Nunca ninguém me disse: 'Aqui Francis, tome este dinheiro e faça o que quiser'", queixa-se ele, batendo na desgastada tecla da falta de liberdade criativa em Hollywood.
Ele recebeu a imprensa internacional anteontem em seu vinhedo em Napa Valley, 60 milhas (96 quilômetros, aproximadamente) ao norte de San Francisco, na Califórnia.
Tendo ao fundo tonéis de vinhos e entre os dedos um charuto, ele explicou numa entrevista coletiva quais as semelhanças entre fazer vinhos e realizar filmes.
Revelou, entre outras coisas, que, graças ao dinheiro que sua família ganha com os vinhos Niebaum-Coppola, ele pode se permitir ser seu próprio mecenas no próximo projeto.
"Todo o dinheiro que eu ganhar com 'O Homem que Fazia Chover' -e espero que ele faça sucesso-, eu vou guardar", afirma ele sobre o filme prestes a ser lançado nos Estados Unidos.
"Aí vou me permitir fazer o que quero. Vou usar o dinheiro que ganhei nos últimos anos, já que minha família tem o vinhedo para se sustentar e não precisa mais de mim. Serei meu próprio patrono."
O diretor parece ter aprendido a lição após hipotecar o vinhedo para realizar "Apocalipse Now", em 1979.
Projeto autoral
Sem revelar o montante de suas economias, Francis Ford Coppola afirma que usará grande parte de seu dinheiro para levar à tela seu primeiro projeto autoral desde "A Conversação", feito em 1974.
"É um roteiro original ainda sem título passado nos dias de hoje e, mesmo sendo tão original quanto 'A Conversação', é tão grande quanto 'Apocalipse Now'", diz ele.
"Eu fiquei tão emocionado e impressionado quando assisti a 'A Doce Vida', de Federico Fellini, pois senti que era um filme mágico que realmente capturou como a civilização era, qual era o estilo da época. Não há um filme como aquele que mostre os dias de hoje."
Segundo Coppola, com o projeto ele pretende explorar as direções em que o mundo e os seres humanos estão indo e talvez até revelar um modelo do que poderia ser uma boa sociedade "no sentido platônico".
"Qual seria a maneira perfeita para nos organizarmos como seres humanos, como nações, como pessoas?", pergunta ele antes de romper em gargalhadas. "Só isso."
Contrato
Mesmo se revelando tão ansioso para trabalhar por contra própria, Francis Ford Coppola não considera os filmes que fez para estúdios, como "Jack", que a crítica massacrou no ano passado, menos importantes.
"Não acho que só porque você é contratado para fazer um trabalho terá um resultado ruim", afirma ele.
"Alguns dos melhores escritores do século 20 escreveram para revistas, e temos obras de arte", compara.
Coppola lembra que é também um espectador que assiste a filmes no shopping center suburbano próximo ao vinhedo.
"Sinto que no momento os filmes estão de um jeito que faz a audiência querer algo que quebre todas as fôrmas e seja muito excitante", diz ele. "Por causa disso eu gostaria de voltar à escrita pessoal de filmes."
Best seller
No filme "O Homem que Fazia Chover", no entanto, ele se revela tímido e até reverencial ao se basear no romance de John Grisham que vendeu 4.3 milhões de cópias e ficou na lista dos mais vendidos durante 28 semanas.
"Nunca tinha lido nada de John Grisham antes e fiquei surpreso e emocionado com a maneira como a história é boa e como os personagens são maravilhosos", diz ele.
Coppola demorou um ano para reescrever o texto e revela que a certa altura se sentiu perdido.
Foi aí que pediu ajuda a Michael Herr, que trabalhou com ele no filme "Apocalipse Now", para escrever as falas do narrador em primeira pessoa que dão o tom da história.
"Já que ele não sabia nada sobre o livro e não tinha nos acompanhado em todo o processo, senti que ele poderia ajudar", resume Francis Ford Coppola sobre a parceria.

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