São Paulo, quarta-feira, 5 de novembro de 1997
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Cidade virou referência

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Por trás da eleição de Nova York está o desmonte da sólida convicção, disseminada mundialmente, de que a redução da violência apenas ocorreria com melhoria dos indicadores sociais, como níveis de emprego ou salário -a polícia teria um papel secundário diante da marginalidade econômica.
Ao desmontar essa crença, Nova York jogou às nuvens a popularidade de um republicano -Rudolph Giuliani- numa cidade tradicionalmente dominada por democratas, com seu eleitorado quase cativo de negros, católicos, latinos, judeus e homossexuais.
Com a queda do crime, iniciada timidamente antes de Giuliani, a cidade criou uma nova teoria para o impacto da pobreza e criminalidade, tornando-se o mais importante laboratório urbano contemporâneo. Um prefeito virou, assim, uma das mais importantes estrelas políticas do país, entrando na lista dos presidenciáveis.
Nova York é, de um lado, beneficiada pelo crescimento econômico, mas, em especial, pelos extraordinários ganhos financeiros de Wall Street. É ajudada também pela rede de organizações não-governamentais que influenciam, e muito, a educação e a saúde.
Ali é a sede, por exemplo, do maior filantropo do planeta, o especulador financeiro George Soros. O principal formador de opinião da cidade, o jornal "The New York Times", coordena a drenagem de fundos para programas contra a pobreza.
Esses fatores, da euforia de Wall Street até a filantropia milionária, são vitais, mas pesou a eficiência de um prefeito. Um administrador que, em essência, apenas fez bem sua tarefa, numa comunidade que já tinha perdido a esperança de viver em ruas limpas e seguras.
A tão festejada política de tolerância zero -ataque aos pequenos crimes para inibir as grandes delinquências- é a cereja em cima do bolo.
Essencial é que se fez o tradicional. Mais policiais nas ruas, estimulando o trabalho preventivo; reforma das delegacias dominadas por incompetentes e corruptos, contratação de jovens delegados; cobrança de resultados, critério para promoção e aumentos.
Graças a programas de computador, foi possível medir com precisão o perfil da criminalidade, centrando esforços em determinados bairros dominados por gangues.
Nunca se prendeu tanto e nunca se deram tantas batidas, o que fez surgir a acusação, por vezes fundamentada, de arbitrariedade policial. A verdade, porém, é que as arbitrariedades não foram sustentadas pela cúpula policial. Ao contrário, sempre foram punidas.
Atitudes que empobrecem o cenário de uma cidade -mendigos agressivos, bêbados urinando na rua, jovens pulando no metrô, grafitagem- passaram a ser atacadas.
Programas de assistência tiraram mendigos da rua, oferecendo empregos bancados pela prefeitura -36 mil pessoas estão nesse programa, que beneficia desempregados crônicos.
Regiões de extrema visibilidade -o Times Square- mudaram em dois anos. Saíram os traficantes, prostitutas, mendigos, lojas de pornografia. Entraram bancos e grandes lojas.
O número de turistas cresceu, lotando os hotéis e restaurantes. A cidade, que já pediu falência, hoje tem um superávit de US$ 1,2 bilhão. Diminuíram as ondas de diáspora: a fuga da classe média, com seu alto poder de consumo. Ficou mais fácil manter as empresas na cidade, contendo a debandada causada por impostos altos e sofríveis serviços sociais.
Diante de tantos dados, produzidos em tão pouco tempo, está em andamento um debate sobre quem é responsável. Até onde vai o prefeito, a economia ou participação de organizações não-governamentais.
O que não se discute -e daí a cidade ter-se convertido numa luz aos problemas urbanos- é que nenhum grande centro rejuvenesceu tão rápido.

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