São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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Garoto é encontrado morto na USP

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante Daniel Pereira de Araújo, 15, desaparecido desde a tarde de domingo, foi encontrado morto na madrugada de ontem na Cidade Universitária (zona sudoeste de São Paulo).
O corpo de Daniel foi visto boiando na raia olímpica por dois guardas da USP (Universidade de São Paulo), às 3h20 de ontem.
Os seguranças comunicaram o encontro à polícia, que chamou o Corpo de Bombeiros. O corpo foi retirado da raia olímpica às 4h55.
Às 6h, o pai de Daniel, o pedreiro João Batista de Araújo, 44, chegou à Cidade Universitária e reconheceu o corpo como sendo o de seu filho. Segundo João Batista, o corpo estava todo inchado, mas ele conseguiu reconhecer o rosto.
Daniel foi levado ao Instituto Médico Legal, que deve divulgar a causa da morte em 15 dias (leia na página 2). No atestado de óbito, consta que Daniel morreu de "causa desconhecida".
O desaparecimento
Daniel estava desaparecido desde a tarde de domingo, quando estava com oito amigos nadando na raia, o que é proibido pela USP.
Segundo seus amigos, dois seguranças em motocicletas chegaram ao local para expulsar as crianças. Dois garotos conseguiram fugir. Outros seis afirmam ter sido espancados com galho de árvore por um dos seguranças.
Exames de corpo de delito feitos pelo Instituto Médico Legal confirmam que quatro dos garotos foram agredidos. Os garotos afirmam ter visto Daniel correndo paralelamente à raia olímpica, sendo perseguido por um segurança em uma moto. Foi a última vez que Daniel foi visto vivo.
Na segunda-feira, como ele não voltou para casa, sua família registrou um boletim de ocorrência de desaparecimento no 93º DP (Jaguaré). Na tarde de segunda-feira, mergulhadores do Corpo de Bombeiros percorreram os 2.400 metros da raia e mergulharam nos pontos mais profundos. Eles não encontraram o corpo de Daniel, mas não descartaram que ele pudesse estar no fundo da raia.
Anteontem, equipes especiais das Polícias Civil e Militar percorreram os bosques da USP, também sem sucesso. A última busca feita pela polícia aconteceu ontem no início da madrugada. Após a saída dos policiais, seguranças da USP teriam continuado procurando o corpo, que foi encontrado ao lado de uma bomba de água.
A dúvida
A família de Daniel, que desde o início culpou os seguranças da universidade pelo desaparecimento, não mudou de opinião com o encontro do corpo.
"Não é possível que o corpo tenha sido encontrado de madrugada, em um lugar totalmente escuro e que já tinha sido vasculhado pelos bombeiros e pela polícia", afirmou a bancária Denilza Pereira de Araújo, 21, irmã de Daniel.
Os seguranças que trabalharam no domingo prestaram depoimento ontem e negaram qualquer agressão.
Durante o depoimento, cerca de 200 pessoas protestaram na porta da delegacia, exigindo justiça. A maioria dos manifestantes estudava com Daniel na escola municipal Euclides Figueiredo, que suspendeu as aulas devido à morte.

LEIA MAIS na pág. 3-2

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