São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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Fim das enchentes

ANTÔNIO PEROSA

A falta de planejamento urbano na região metropolitana de São Paulo gerou, ao longo dos anos, sérios problemas para os seus rios, principalmente os dois maiores, o Tietê e o Pinheiros. O maior deles é o assoreamento permanente.
Principal responsável pelas enchentes, o assoreamento acontece porque, com a total devastação das matas ciliares, as camadas menos resistentes dos terrenos das margens ficam expostas à ação das chuvas. Levada pela enxurrada, a terra daí desprendida é depositada no leito dos cursos d'água. Além da terra, eles recebem grande volume de lixo, entulho e detritos de toda a espécie, que fazem diminuir a vazão de suas águas.
A ocupação desordenada da área urbana, com os loteamentos clandestinos e as favelas construídas às margens dos rios, somada à impermeabilização do solo causada pelo constante aumento da malha de asfalto, só agravou o problema.
Há outro fator importante: o Tietê e o Pinheiros têm pouco declive, o que resulta em lento escoamento de suas águas. O Tietê cai apenas 15 centímetros por quilômetro. Os córregos que nele desembocam chegam a 1,5 metro ou mais por quilômetro, abastecendo-o com um volume acima de sua capacidade de escoamento.
A canalização de córregos, por sua vez, não evita as enchentes. Apenas transfere o problema de lugar. Os 16 milhões de m2 de várzeas preservadas ao longo do Tietê, como no parque Ecológico, não bastam para absorver o extravasamento do rio nas grandes chuvas.
Desde o início do século o assoreamento do Tietê é uma preocupação pública. O governo Covas, porém, propôs uma mudança radical na filosofia de combate às enchentes. Em vez das obras tradicionais, como a canalização de córregos, considerou que a gestão dos recursos hídricos deve entender a água como um dos elementos do ecossistema urbano, que só poderá ser equacionado por uma estratégia global de abordagem.
Assim, a questão das enchentes está sendo atacada em três frentes: 1) obras corretivas, como o aprofundamento da calha do Tietê, 2) obras de manutenção, como o desassoreamento, e 3) ações preventivas a partir do uso de tecnologias inovadoras e do planejamento de ações de curto, médio e longo prazos, com integração de Estado, municípios e sociedade civil.
Sob a égide dessa nova política, o Departamento de Águas e Energia Elétrica assinou contrato com o Fundo Internacional de Cooperação Econômica, no valor de R$ 500 milhões, para o financiamento de obras. Entre elas, destacam-se a canalização do rio Cabuçu de Cima, o aprofundamento da calha do Tietê entre a foz do rio Pinheiros e a barragem Edgard de Souza e a construção de duas novas barragens -Paraitinga e Biritiba.
Outra obra de grande impacto será a construção -em conjunto com as prefeituras do ABCD- de 46 piscinões, que exigirá investimentos de mais de R$ 26 milhões.
Dessa maneira, o aprofundamento da calha do Tietê e o seu desassoreamento contínuo serão providências eficazes contra as enchentes. Elas são as partes principais de um conjunto de soluções integradas para o problema.

Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo. Foi deputado federal pelo PMDB e secretário nacional de Saneamento no governo Itamar Franco.

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