São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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Governo argentino pode cancelar aumento anunciado aos professores

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O governo argentino deverá cancelar o aumento dos salários dos professores prometido por Carlos Menem antes das eleições legislativas e municipais de outubro. O reajuste das aposentadorias também deverá ser adiado.
As medidas têm o objetivo de evitar o aumento dos gastos públicos -a mesma receita que está sendo adotada pelo governo brasileiro para equilibrar sua economia após a crise mundial nas Bolsas.
Ontem, chegou a Buenos Aires uma missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) que irá formalizar a liberação de um crédito de US$ 3 bilhões e negociar a adoção de um pacote de medidas de contenção de gastos e aumento de arrecadação.
Foram incluídas nas negociações a discussão sobre a possível volta de um imposto sobre a comercialização de determinados produtos (bebidas alcoólicas, refrigerantes e artigos de luxo, como jóias e tapetes), que havia sido eliminado há dois anos.
Também se discute o fim das isenções que ainda existem sobre o lucro e as vendas a varejo, o aumento do imposto sobre combustíveis -que provocaria um aumento nos preços- e a flexibilização das regras trabalhistas até junho de 98. Os gastos com obras públicas deverão ser diminuídos.
Algumas dessas medidas já vinham sendo discutidas entre o governo argentino e o FMI, mas tomaram uma dimensão de emergência após a queda das Bolsas.
Como a economia argentina depende da brasileira, a definição sobre o pacote será feita somente depois de conhecidas as ações de contenção de gastos no Brasil.
O governo argentino também avalia a possibilidade de negociar com o Bird (Banco Mundial) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) a liberação de uma linha de crédito que seria usada no caso de um ataque especulativo.
Dois bancos estrangeiros (West Merchant Bank e Swiss Bank Corporation) ofereceram US$ 1 bilhão para reforçar o fundo anticrise do governo da Argentina, que atinge assim o valor de US$ 7,1 bilhões.
O Ministério da Economia manteve para a próxima semana a privatização dos aeroportos. O FMI pressiona para que o dinheiro a ser arrecadado com a venda do Banco Hipotecario, estatal, seja utilizado para abater a dívida externa.
Professores e aposentados
Anteontem à noite, em debate na Câmara, o ministro da Economia, Roque Fernandéz, evitou responder a perguntas feitas por deputados sobre o aumento do salários dos professores prometido por Menem durante a campanha eleitoral, em outubro.
Diante do silêncio do ministro, deputados de oposição protestaram, afirmando que a atitude representa, na prática, o cancelamento do reajuste.
Questionado sobre a data do aumento das aposentadorias, também prometido por Menem, o ministro limitou-se a dizer que o orçamento do próximo ano já prevê 500 milhões de pesos (US$ 500 milhões) para essa despesa.
Com isso, a oposição contribui para "desarmar" os ânimos internos e externos em relação à fragilidade da economia e também sinaliza à comunidade financeira e aos empresários a intenção de não promover alterações radicais, caso venha a ganhar as eleições.

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