São Paulo, quinta-feira, 6 de novembro de 1997
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O trem e o jerico

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Há um projeto sinistro bolado pelas autoridades municipais aqui do Rio: um trem-bala que ligaria o centro da cidade à Barra, voando em cima de um trilho que passaria por ruas já existentes. A justificativa é econômica: o quilômetro desse trem-bala custará um décimo do quilômetro de um metrô.
Ninguém é contra a melhoria no sistema do tráfego. Por isso mesmo, antes de se pensar em metrô, já havia um projeto de criar um trem pelas encostas dos morros que ligam nossos bairros. Não seria um trem-bala, seria apenas um trem que levaria o cidadão de um lugar para outro sem entupir as ruas e sem injuriar a paisagem.
Melhor ainda. Por ocasião da Rio-92, foi feito um projeto que ligaria a mesmíssima Barra ao centro pelo mar, com cais intermediários, como em Veneza. Com os modernos meios de transporte marítimo, uma linha direta desses barcos faria a ligação em menos tempo do que o trem-bala. Linhas suplementares iriam parando nas diversas estações desse metrô aquático: São Conrado, Leblon, Canal, Ipanema, Arpoador, Posto Seis, Lido, Leme, Praia Vermelha, Urca, Botafogo, Flamengo, Glória, Santa Luzia, Aeroporto, Praça 15. Conexões como num metrô qualquer fariam ligações especiais e mais rápidas.
Em 20 minutos, usando a linha direta, o morador da Barra saltaria no mesmo local em que desembarcou dom João 6'. A construção dessas estações não seria cara nem atentaria contra a paisagem, o arquiteto Sérgio Bernardes tem projetos para essas estações. Já é dele o desenho dos atuais postos de salvamento.
O trem-bala, tal como está sendo projetado, passará rente ao nariz dos moradores das ruas principais, desvalorizando imóveis e enfeiando a cidade. Tremo só em pensar em ver esse trilho passando por cima da Lagoa (eu me suicidaria) ou cortando a formidável perspectiva das palmeiras imperiais do Jardim Botânico. Francamente, é idéia mais para jerico do que para trem.

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