São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997
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Mulher de Oviedo acusa Justiça paraguaia

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Paraguai, Juan Carlos Wasmosy, foi acusado ontem de interferir no Poder Judiciário e de "colocar uma espada sobre as cabeças de todos os juízes" por Raquel Marín Oviedo, mulher de Lino Oviedo, ex-chefe do Exército paraguaio.
Lino Oviedo, atualmente general da reserva e pré-candidato do Partido Colorado à Presidência do Paraguai, está foragido desde a semana passada porque se recusa a cumprir uma ordem de prisão disciplinar decretada contra ele pelo presidente Wasmosy.
A declaração de Raquel Oviedo foi motivada por uma decisão da Corte Suprema de Justiça, que suspendeu anteontem a juíza Blanca Florentín, por ter concedido um habeas corpus favorável a Oviedo.
Em entrevista à Folha por telefone de Assunção, Raquel Oviedo, 44, disse que a suspensão da juíza "é um ato autoritário que objetiva amedrontar todos os juízes".
"Agora, eles sabem que há uma espada sobre suas cabeças. Qualquer decisão favorável a Lino Oviedo será punida com afastamento", disse.
A juíza Blanca Florentín também colocou em dúvida a independência do Poder Judiciário. "A Corte Suprema é manipulada pelo Poder Executivo", afirmou à Folha.
Segundo Florentín, 50, sua suspensão representa uma "interferência na independência do juiz". "A decisão é uma violência ao direito do magistrado e à independência pessoal", afirmou.
Já são dois os juízes paraguaios suspensos por terem concedido habeas corpus a Oviedo. O primeiro juiz suspenso foi Roux Vargas.
"Perseguição política"
A briga entre Wasmosy e Oviedo começou em abril de 1996, quando o general, então chefe do Exército, rebelou-se contra o presidente e ameaçou derrubá-lo.
Após 20 horas de motim, os dois fizeram um acordo: o general se renderia e, em troca, seria nomeado ministro da Defesa. Pressionado pela população, o presidente não cumpriu a promessa e mandou o general para a reserva.
Oviedo, que ainda responde a processo pela tentativa de golpe, decidiu se lançar candidato a presidente pelo mesmo partido de Wasmosy, o Partido Colorado.
Em 7 de setembro último, Oviedo derrotou o pré-candidato presidencial, Carlos Filizzola, nas prévias internas do partido. As eleições paraguaias acontecerão em 10 de maio de 98.
Em 3 de outubro, Wasmosy, em sua condição de comandante-em-chefe das Forças Armadas, decretou ordem de prisão disciplinar contra Oviedo. O general da reserva havia acusado o presidente de corrupção e covardia.
Oviedo, no entanto, não aceitou a ordem de prisão e, segundo sua mulher, encontra-se escondido em algum lugar na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Na última quinta-feira, sua casa em Assunção foi invadida pelo Exército.
"O Exército invadiu a casa aos chutes, empurrões e tiros. Duas balas foram parar no teto do quarto de minha filha de oito anos", disse à Folha Raquel Oviedo.
"Estou preocupada com meus filhos. Eles não podem nem ir ao colégio porque carros estão dando voltas em torno da escola. Tenho medo de ser raptada para que Lino seja obrigado a se apresentar", afirmou a mulher do general.
Segundo ela, seu marido está sendo vítima de uma "perseguição política". "Ele venceu as prévias do partido sem a estrutura do governo. Agora, querem impedi-lo de disputar a Presidência."
Outro lado
A Folha telefonou ontem para a Presidência da República do Paraguai, mas foi informada de que só o porta-voz do presidente, Edward Vogado, poderia dar qualquer declaração. Entretanto, o porta-voz havia viajado para a Venezuela para acompanhar o presidente Wasmosy durante a 7ª Conferência de Cúpula Ibero-Americana, que começa hoje.

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