São Paulo, sexta-feira, 7 de novembro de 1997
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Rússia pós-comunista celebra 1917

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

A Rússia testemunha hoje o 80º aniversário da Revolução de 1917 com um feriado nacional, apesar da inclinação anticomunista do governo de Boris Ieltsin, com uma manifestação pró-bolchevique planejada para o centro de Moscou e com um pronunciado clima de apatia política. A marcha moscovita deverá reunir, segundo seus organizadores, no máximo 3.000 pessoas.
O presidente Boris Ieltsin, líder da onda anticomunista que desintegrou a URSS em 1991, decidiu manter o feriado de 7 de novembro em nome da "tradição", mas mudou o nome. Chamou-o de Dia da Reconciliação e da Concórdia.
Ieltsin convocou a população a "refletir sobre a história russa" e a ficar em casa na data. Mais de 95% dos russos pretende seguir o conselho presidencial, pelo menos no que se refere à opção de não enfrentar hoje nas ruas o frio e a neve, segundo pesquisa da Fundação de Opinião Pública, de Moscou.
Apesar da apatia, a mídia do país enche páginas de jornais e programas de TV com debates sobre os eventos de 1917. A nova democracia russa proporciona o embate entre aqueles que defendem a "Grande Revolução Socialista de Outubro" e os que a descrevem como o "Golpe de Outubro" e "início da tragédia nacional".
A Fundação de Opinião Pública divulgou, no começo da semana, uma sondagem que indicou o apoio de 15% dos entrevistados aos bolcheviques, os responsáveis pela revolução que trouxe os comunistas ao poder pela primeira vez na história mundial.
Pesquisa semelhante, realizada em 1991, recolheu a cifra de 24% de respostas favoráveis ao movimento liderado por Vladimir Lênin em outubro de 1917, data registrada pelo antigo calendário russo.
A queda do apoio aos comunistas caminha ao lado do aumento da apatia política. A Rússia passou, nos últimos dez anos, por diversos terremotos políticos e sociais, como a desintegração da URSS e o desmantelamento do sistema econômico soviético.
Cansada das recentes turbulências e preocupada com a transição à economia de mercado, a população mostra desinteresse em relação à vida partidária, fenômeno já registrado na eleição presidencial de 1996 e na parlamentar de 1995.
Os neocomunistas organizam uma marcha que sairá às 10h (5h em Brasília) da praça de Outubro, onde sobrevive uma das últimas estátuas de Lênin na capital russa.
Atualmente, o Partido Comunista diz contar com 600 mil filiados, cifra distante dos 6,8 milhões registrados em 91. Os neocomunistas, porém, representam a principal força de oposição a Ieltsin e formam a maior bancada da Duma (câmara baixa do Parlamento).
Passado
Nos tempos da URSS, o 7 de novembro ocupava um dos principais lugares do calendário oficial. Com um mês de antecedência, o "Pravda", órgão oficial da direção do PC soviético, publicava os slogans que poderiam decorar as faixas e as bandeiras naquele ano.
Moscou era inundada por bandeiras vermelhas com a foice e o martelo, o símbolo do movimento comunista. As fábricas, todas estatais, presenteavam seus operários com pacotes de salame e frango congelado, artigos preciosos nos tempos da penúria soviética.
Uma imponente parada militar cortava a praça Vermelha. Do alto do mausoléu de Lênin, dirigentes da URSS assistiam ao desfile, enquanto analistas estrangeiros esquadrinhavam a posição de cada líder comunista. A posição no palanque indicava se o dirigente estava em ascensão ou em queda.

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