São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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Argentina promete privatizar banco para conter crise; Bolsa despenca 5%

LUCAS FIGUEIREDO

LUCAS FIGUEIREDO; LÉO GERCHMANN
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Decisão é interpretada como tentativa de sinalizar que não haverá alteração nos rumos da economia

LÉO GERCHMANN
O aprofundamento da crise mundial na economia agravou ainda mais a situação na Argentina, com a Bolsa de Buenos Aires atingindo resultado negativo de 5,09% em seu fechamento.
Ainda pela manhã, em razão das quedas nas Bolsas da Ásia e do Brasil, a abertura da Bolsa de Buenos Aires foi adiada em uma hora. Enquanto isso, o governo fazia uma malsucedida tentativa de evitar ser "contaminado" por essa onda de baixas, anunciando a intenção de privatizar o maior banco estatal do país, o La Nacion.
Também foi oficializada a disposição de vender 49% das ações do Banco Ciudad de Buenos Aires, um dos maiores do país. Os dois anúncios foram interpretados como uma tentativa de sinalizar aos investidores a intenção de não alterar os rumos da economia.
Mesmo assim, às 14h (15h, horário de Brasília), o pânico tomou conta do mercado, com a Bolsa de Buenos Aires abrindo com queda de 0,01% e despencando a cada minuto, chegando, no seu pior momento, a menos 6,38%.
No final da tarde, o índice voltou a subir, se estabilizando na casa dos 5% negativos -refletindo a recuperação da Bolsa de São Paulo após a queda de mais de 10% durante a tarde.
"As notícias que nos chegam são desalentadoras. É muito difícil que a Argentina escape desta situação", afirmou o analista econômico Marcelo Bonelli.
As informações sobre o agravamento da crise no Brasil fizeram com que a Associação de Bancos da Argentina anunciasse, antes mesmo da abertura da Bolsa de Buenos Aires, uma previsão de aumento das taxas de juros e dos impostos e diminuição da atividade econômica para o próximo ano.
Rumores sobre o câmbio
Com 30% das exportações voltadas para o Brasil, a economia argentina está diretamente conectada à brasileira, -efeito chamado de "Brasil-dependência".
Rumores de que o Banco Central do Brasil iria alterar as bandas cambiais -com a ampliação do limite da cotação do dólar em relação à moeda brasileira- fizeram aumentar os temores de que o governo argentino não conseguiria manter a política de câmbio fixo -no qual um peso, nome da moeda local, vale um dólar.
Mas o Ministério da Economia argentino manteve o câmbio fixo e não anunciou nenhuma medida concreta para ajustar a economia -apesar de já estar negociando com o FMI um pacote de medidas para aumentar a arrecadação e diminuir os gastos públicos.
"Exercício teórico"
O governo argentino continua analisando quais seriam as medidas locais necessárias caso haja a desvalorização do real.
A Casa Rosada (sede da Presidência) divulga que os dois governos descartaram a possibilidade de desvalorização do real e do peso.
No entanto, o secretário de Política Econômica da Argentina, Carlos Rodríguez, afirmou que foi realizado um "exercício teórico" para avaliar o impacto de uma possível desvalorização do real.
"Somente ficariam em situação delicada 3% do total das exportações argentinas, ou US$ 800 milhões, que poderiam ser transferidas para outros mercados."
A afirmação, porém, não coincide com estudo feito pelo Ministério das Relações Exteriores, que qualifica como de "alta dependência" do Brasil quase um quarto das exportações argentinas.

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