São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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Mostra ilustra a África brasileira

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

Em 20 de outubro de 1621, um decreto real estabelecia que no Brasil nenhum negro ou mulato poderia trabalhar como ourives.
Ao longo da história, os chamados afro-brasileiros conviveram com milhares de episódios como esse, restritivos à expressão de seus universos simbólicos.
Mas, como ilumina o dito popular, iam os anéis, mas ficavam os dedos.
Com cerca de 300 obras, "Arte e Religiosidade no Brasil: Heranças Africanas" começa hoje na sede da Pinacoteca do Estado no parque Ibirapuera para mostrar o que essas "mãos sem anéis" deixaram em nossa cultura.
A exposição faz mais do que reunir obras de arte que cruzem traços de religiosidade e a "ascendência" africana.
Organizada como um panorama amplo da sobreposição desses fatores, a mostra vai além das gravuras, esculturas, fotografias e instalações de artistas do porte de Mestre Didi, Rubem Valentim, Pierre Verger e Ronaldo Rêgo.
Como se propõe a uma "arqueologia" da construção da nossa identidade, a exposição, com curadoria de Emanoel Araújo e Carlos Eugênio de Moura, se estende para a reprodução de "altares" de rituais religiosos afro-brasileiros.
Lado a lado, estão elementos de culto a orixás e a santos católicos negros.
Dessa contraposição, assim como do convívio do religioso com o artístico, é que emanam os elementos de identidade que formam nossa herança africana.
A vizinhança da arte criada como arte e de objetos de cunho religioso não causa estranheza.
Assim como defendem grande parte dos estudiosos de religiões africanas, nelas o sagrado invade a totalidade da experiência do mundo.
"Arte e Religiosidade no Brasil" parece consentir. Mostra uma arte indissociável do sagrado, bem como o sacro inseparável do artístico.

Exposição: Arte e Religiosidade no Brasil: Heranças Africanas Quando: hoje, às 16h; ter a dom, das 10h às 18h; até 14 de dezembro Onde: Pinacoteca no Parque - pavilhão Padre Manoel da Nóbrega (parque Ibirapuera, entrada pelo portão 10, tel. 011/549-8073) Quanto: de R$ 2 a R$ 5 (grátis às sextas)

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