São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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Comunistas exigem saída de Ieltsin

10 mil celebram revolução

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente russo, Boris Ieltsin, foi ontem à TV pedir "reconciliação e a capacidade de perdoar" à população do país, enquanto cerca de 10 mil pessoas cruzavam as ruas de Moscou exigindo a renúncia do governo. Os manifestantes celebravam o 80º aniversário da Revolução de 1917, que criou o primeiro regime comunista do planeta.
"Abaixo o regime entreguista e traidor" e "viva os ideais proletários" eram alguns dos slogans que decoravam as faixas vermelhas dos diversos grupos na marcha. Guenadi Ziuganov, o líder do Partido Comunista russo, pediu a volta dos "valores soviéticos".
Atualmente, o neocomunista Ziuganov já admite a economia de mercado e mostra a China como modelo. Ou seja, PC no poder e capitalismo na vida econômica.
Apesar dos slogans agressivos e do número de manifestantes (os organizadores esperavam só 5.000), a celebração bolchevique refletiu a fragilidade da oposição.
Repetiram-se palavras de ordem surradas e idosos eram a maioria esmagadora dos participantes, impulsionados pela nostalgia e pelas dificuldades de se adaptar à competição na economia de mercado.
Ieltsin, principal timoneiro da onda anticomunista que desintegrou a URSS em 1991, manteve o 7 de novembro como feriado, mas mudou o nome para Dia da Reconciliação e da Concórdia.
"Somos capazes de não só nos opor, mas também de achar a concórdia", afirmou presidente, 66, que deixou o PC da URSS em 1990.
Ele disse haver "duas verdades" sobre a Revolução de 1917. A primeira seria a transformação do país em superpotência, que venceu a Segunda Guerra e foi pioneiro na exploração espacial. A segunda seria a guerra civil (1918-20) após a Revolução, entre "vermelhos" (bolcheviques) e "brancos" (pró-czarismo).
Segundo Ieltsin, a guerra civil gerou a intolerância e o "fanatismo político" do regime soviético. Sobre seus ex-camaradas, afirmou o presidente: "Devemos perdoar aqueles que colocaram a idéia utópica acima da vida humana."
Ieltsin prometeu construir um monumento em homenagem às vítimas da guerra civil.
O discurso pacificador de Ieltsin contrasta com os principais momentos de sua carreira, marcada pela combatividade e intolerância. Em 93, lançou tanques contra o Parlamento rebelde e pró-comunista. Em 96, reelegeu-se com uma campanha que falava da "ameaça da volta do comunismo".
Ieltsin foi reeleito com folga, mas na Duma (câmara baixa do Parlamento) os neocomunistas têm a maior bancada. Ele não pertence a nenhum partido político, sustentando-se em diversos grupos do chamado "campo democrático".
Ieltsin, ainda sem rivais fortes, busca agora assegurar estabilidade política para continuar suas reformas pró-capitalismo, iniciadas em 92. Adota o discurso da "reconciliação" sem sinalizar mudanças na opção pela economia de mercado.

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