São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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Nacionalismo une neocomunistas a religiosos

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

A bandeira vermelha tremulava, com uma efígie em dourado no seu centro. A imagem era de Jesus Cristo, um convidado recente para celebrações dos neocomunistas russos, hoje aliados de alguns setores da Igreja Ortodoxa.
O ateísmo da era soviética deu lugar a uma concessão política. Os herdeiros de Vladimir Lênin, o líder da Revolução de 1917, promovem agora alianças com setores da Igreja Ortodoxa russa que vêem no ieltsinismo uma perigosa infiltração de "ideologias ocidentais".
Essa aproximação movida a nacionalismo e sentimento anti-Ocidente reúne pólos rivais antes do terremoto ideológico provocado pelo fim da URSS. E a manifestação de ontem espelhou novamente essas estranhas combinações.
O ponto final da marcha também carregou simbolismo. Era a praça Lubianka, ao lado do prédio que abrigava a desaparecida KGB, o serviço secreto da URSS.
A praça Vermelha, coração de Moscou e palco de paradas militares na era soviética, ficou fechada ontem. O governo mantém a política de impedir grandes atos neocomunistas na área onde fica o mausoléu de Lênin.
Já no centro da praça Lubianka, manifestantes enfrentavam neve e chuva empunhando bandeiras do passado soviético. Estavam exatamente no lugar onde havia uma estátua de Felix Djerzinski, o fundador da polícia secreta soviética. O monumento foi retirado em 91, no auge da onda anticomunista.
Líderes neocomunistas tentavam manter a multidão animada, apesar do tempo ruim. Os termômetros marcavam -2°C.
"Somos 300 mil pessoas nas ruas de Moscou", disparou um orador. Exagero. A polícia de Moscou estimou a multidão na Lubianka em 10 mil pessoas, embora alguns organizadores tenham insistido em 100 mil participantes na marcha.
A maior manifestação, segundo a polícia, ocorreu no berço da Revolução, em São Petersburgo (ex-Leningrado). Cerca de 50 mil pessoas saíram às ruas.
Na moscovita Lubianka, militantes de diversos grupos leninistas buscavam vender sua literatura. Havia cartazes e livros com discursos de Josef Stálin, que reinou na URSS entre 1924 e sua morte, em 1953.
(JS)

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