São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Brasileiros jogam por Exército dos EUA e são vice no front

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os aliados capturavam a 148º divisão alemã a 300 km ao norte de Florença, quando em seu estádio Comunale entravam em campo as equipes do 8º Exército inglês e do 5º Exército dos EUA, que era um time brasileiro transvestido.
Naquele dia 28 de abril de 1945, oito dos onze jogadores representando os EUA eram do Brasil no Campeonato do Teatro de Operações do Mediterrâneo, que tinha ainda equipes das forças aéreas inglesas, norte-americanas e dos exércitos aliados na África.
No time estavam o goleiro Bráulio (Atlético-MG), Geninho, Walter (ambos do Botafogo), Soares (Inter-RS) e Bidon (Madureira).
Mas a grande figura do time era o flamenguista Perácio, titular do ataque do Brasil na Copa de 38.
Todos ocupavam postos nos regimentos de artilharia, que geralmente ficam na retaguarda.
"Ninguém se arriscaria a baixar o moral das tropas com a perda de um esportista. Eles eram mais úteis fora do front", afirma Luiz Paulino Bonfim, que escreve um dicionário histórico sobre a Força Expedicionária Brasileira.
Com a cobertura de quatro bombardeiros (três dos EUA e um do Brasil), a partida de Florença terminou com a goleada de 5 a 2 do 5º Exército norte-americano, gols de Bidon (3), Geninho e Walter.
Os brasileiros bateram os ingleses mais duas vezes (2 a 1 e 4 a 0) e houve um empate (2 a 2). Com a guerra já terminada, a sorte mudou de lado para os ingleses. O 8º Exército recebeu o reforço de dois titulares da seleção inglesa, os atacantes Matthews e Fields.
Um empate em 1 a 1 e uma vitória por 4 a 1 para os ingleses na cidade de Ancona deixaram os brasileiros com o vice-campeonato.
Um torneio em plena guerra só poderia ocorrer na retaguarda da frente italiana -as outras ofensivas aliadas foram mais sangrentas.
A ida à guerra de Perácio é uma história curiosa. Segundo seu técnico à época, Flávio Costa, ele foi convocado porque falava demais.
"Conversamos com o Dutra (ministro da Guerra), que prometeu que ia livrá-lo. Mas Perácio era falastrão, contou para todo mundo que não iria mais à guerra, e o governo teve de convocá-lo."
Perácio alegou dores e só embarcou na segunda leva para a Europa. Lá, treinava e era motorista.
(RB)

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