São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Eficácia dos juros altos está em xeque VANESSA ADACHI MAURICIO ESPOSITO; VANESSA ADACHI
A saída de dólares do país e a queda acentuada da Bolsa de São Paulo nos últimos dias da semana, mesmo após o Banco Central ter praticamente dobrado as taxas básicas de juros, deixaram analistas e economistas intrigados a respeito do desenrolar da crise. A dúvida maior é sobre a eficácia do choque monetário praticado pelo governo. O sócio do Banco Garantia de Investimentos, Cláudio Haddad, acredita que a elevação dos juros determinada pelo governo foi positiva para brecar a saída de recursos do país. No entanto, afirma, a eficácia da medida depende do retorno da tranquilidade aos mercados internacionais, especialmente na Ásia. "A medida ajudou muito. A tendência é que volte a entrar dinheiro no país. Mas, por enquanto, as pessoas ainda estão preocupadas porque está acontecendo muita coisa no exterior", disse Haddad. Para o economista Paulo Nogueira Batista Jr., a situação não é para otimismo exagerado. "Apesar do choque monetário ter sido violento, as reservas internacionais do Brasil não foram recompostas", afirma. Segundo Nogueira Batista, a saída de dólares no mercado de câmbio financeiro é preocupante. Na quinta-feira passada, o fluxo de dólares no mercado financeiro brasileiro foi negativo em US$ 153 milhões. Na quarta-feira o fluxo também havia sido negativo. Com a crise dos mercados no final de outubro, o fluxo de dólares no mês foi negativo em US$ 10 milhões. Para Nogueira Batista, o quadro de fuga de recursos do país foi mais favorável nesta semana, se comparado com a anterior. "Mas a situação nos mercados asiáticos não é boa e há certo nervosismo aqui", acrescenta. Efeito dominó Na última sexta-feira, as principais Bolsas de Valores da Ásia voltaram a registrar perdas significativas, repercutindo nos grandes mercados acionários do resto do planeta. A Bolsa de Tóquio recuou 4,22% e a Bolsa de Seul, na Coréia do Sul, caiu 6,9%. A moeda local, o won, sofreu um ataque especulativo e chegou a ser desvalorizada. A Bovespa fechou na sexta-feira com queda de 6,38%. A Bolsa de Buenos Aires teve baixa de 4,94% e Wall Street caiu 1,33%. "Ressaca" Segundo afirmou à Folha um investidor, na última sexta-feira, o mercado viveu nesses últimos dias uma ressaca de crise de confiança. Por esse raciocínio, para alguns investidores estrangeiros a preocupação com a economia ainda superava o incentivo governamental à manutenção das aplicações no país, por meio da alta drástica nos juros. No entanto, há a análise que, caso o governo detalhe mais o pacote fiscal atualmente em preparo, o mercado irá se acalmar. Para muitos analistas o desenrolar da crise das Bolsas está indefinido e era impossível, até a sexta-feira passada, ter uma visão clara da situação. Seguindo esse raciocínio, o mercado estaria dividido entre otimistas e pessimistas. Os otimistas avaliam que o crash das bolsas iniciado no final de outubro seria apenas uma correção de preços de alguns ativos, principalmente em Hong Kong e nos Estados Unidos. Assim, neste momento, tudo estaria voltando ao normal, lenta e gradualmente. Para os pessimistas, entretanto, o pior ainda está por vir. Texto Anterior: Licitação da Telesp entra em nova fase Próximo Texto: Aumenta a incerteza Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |