São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Não estamos imunes à crise'

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A seguir, leia continuação da entrevista com o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega:
Folha- Por que o senhor diz que o Banco Central brasileiro vem se tornando independente?
Maílson- Porque ele tem tomado decisões autônomas em defesa da moeda e da estabilidade, e a alta dos juros foi uma delas. O governo tem reagido com maturidade política e, assim, a independência de atuação do Banco Central é uma consequência. Ainda não chegamos aos patamares do Federal Reserve, dos EUA, ou do Bundesbank, da Alemanha, que são absolutamente independentes de seus governos centrais, mas caminhamos para isso.
Folha- O senhor esperava reação melhor do mercado à entrevista de Fernando Henrique Cardoso, na quarta-feira passada, à privatização da CPFL e à insistência do presidente em dizer que não desvalorizaria o real?
Maílson- Esperava e gostaria de entender o que está se passando. Aliás, acho que sei: o mercado financeiro é muito superficial em suas análises quanto ao processo de estabilidade. Há, muitas vezes, até uma certa cretinice nestas análises. Muitos economistas e operadores ainda estão contaminados pelo fantasma do autoritarismo, esperando que tudo se resolva a uma palavra do presidente.
Folha- Há lições favoráveis nesta crise?
Maílson- Muitas. A primeira foi dada pelo mercado: o risco do excesso de alavancagem é muito alto e não se pode apostar tanto em papéis da dívida brasileira no exterior. Aprendemos a lição de que não estamos imunes às crises. Mas há uma certa irracionalidade na associação da crise na Ásia com a no Brasil ou na América Latina.
Folha- O senhor acha que entraremos num período recessivo prolongado?
Maílson- Acho que não. A recessão de 95, que se iniciou com as altas taxas de juros, pegou uma economia que crescia na ordem de 10% do PIB ao ano, e a derrubou para menos alguma coisa. Foi brutal. Agora não: o governo pensava que o país cresceria 4% em 97. Eu achava que cresceríamos 3,5%, e agora o governo fez a revisão de sua estimativa para 3%, e eu refiz a minha para algo em torno dos 2%. O cidadão aprendeu a conviver com a moeda estável e com a importância dos juros -daí, não se endividará como se endividou. O sistema bancário, que sangrou em 95 em função da inadimplência, agora está mais ajustado. Será uma crise, mas não será nenhum desastre.
(LCP)

Texto Anterior: BC demonstra independência, diz Maílson
Próximo Texto: Real ainda está vulnerável, diz economista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.