São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Lei Zico 2

JUCA KFOURI

Zico é o maior ídolo do futebol brasileiro pós-Pelé.
Não são poucos, porém, os que o criticam pelo fato de ter participado do governo Collor. Uma bobagem.
Como muita gente boa, Zico acreditou no discurso de Collor e, diga-se de passagem, cumpriu muito bem seu papel de secretário de Esportes.
Lutou como se estivesse no gramado para aprovar uma lei que seria perfeita, e dispensaria uma nova, se aprovada como ele a idealizou -incluindo o fim do passe, sem o monstrengo do bingo e com a obrigatoriedade da transformação dos clubes profissionais em empresas.
Daí, apenas, o meu espanto em relação às criticas de Zico ao projeto de Pelé.
Lembro-me perfeitamente de uma conversa que tivemos, em Porto Alegre, quando Zico lamentava que estava difícil passar a obrigatoriedade.
Então, ele se esforçava para se convencer de que, mesmo opcional, todos adotariam a fórmula modernizadora.
"O primeiro que se transformar em empresa vai levar tamanha vantagem sobre os demais que, em seguida, todos vão imitá-lo", sonhava, se não com essas palavras, com esse sentido.
E Zico parece que ainda não entendeu que o projeto de Pelé não obriga a transformação do clube todo em empresa, mas, sim, de seus departamentos profissionais, aqueles que desenvolvam atividades comerciais -artigo que está em vias de ser aprimorado com a adoção pura e simples da fiscalização de seus resultados econômicos pela Receita Federal, com a consequente cobrança de IR.
Na verdade, a impressão que fica é de uma disputa de egos, algo tolo se avaliarmos que estamos diante do "Atleta do Século" e do maior ídolo da história do clube mais popular do mundo, o Flamengo.
Fica claro que faltou uma conversa entre ambos.
Quem sabe Zico se convenceria de que Pelé estaria apenas concluindo o que ele começou, chutando para gol um lançamento seu.
Porque Zico não pode ser aliado daqueles que mais trabalharam para desfigurar seu projeto, embora, objetivamente, seja esse o papel que esteja, tenho certeza de que de forma involuntária, desempenhando.
E, para que a crítica não recaia apenas sobre Zico, aqui fica uma sugestão ao ministro Pelé: converse com Zico e, depois, anuncie ao país que não está propondo nenhuma lei Pelé, mas, apenas, a Lei Zico 2, revista e melhorada.

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