São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997 |
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Estrutura propiciou vinda de nazistas
ROGÉRIO SIMÕES
Pesquisa inédita da USP (Universidade de São Paulo), com base nos arquivos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), revela que membros da colônia alemã criaram uma situação propícia para a vinda de nazistas. Um Partido Nazista bem organizado no Sudeste e a distribuição de espiões inclusive no Nordeste garantiram importante presença da ideologia nazista no país. Coordenado pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, o trabalho descreve, por meio dos arquivos da polícia paulista, reunidos no Arquivo do Estado, como se organizou o nazismo brasileiro. A pesquisa servirá de base para a atuação da Comissão Especial de Apuração de Patrimônios Nazistas no Brasil, estabelecida pelo governo federal para apurar a existência no país de bens de judeus usurpados por nazistas. Para Carneiro, que participa da comissão, os membros do 3º Reich que passaram ou mesmo se estabeleceram no Brasil depois de 1945 tiveram auxílio ao chegar. "Os que vieram foram recebidos por alguém", afirma. Segundo ela, ainda não foi possível determinar o número de nazistas existentes no Brasil na época. O estudo aborda três aspectos da presença alemã antes e durante a guerra: o funcionamento do Partido Nazista, a espionagem e o cerco da polícia à comunidade alemã. Maria Tucci Carneiro alerta para o fato de os documentos analisados serem da polícia, que classificava algumas pessoas como simpatizantes do 3º Reich simplesmente por serem alemãs. Segundo ela, há até mesmo casos de judeus alemães apontados pela polícia como nazistas. Otto Braun, que ocupou a função de tesoureiro do partido, declarou à polícia paulista que em 1931 existia uma diretoria provisória, formada por Henning von Cossel, o chefe local, Karl Illinger, tesoureiro, e Oto Emil Schuke, como secretário. Propaganda Em 1934, a sede da agremiação foi transferida do Rio de Janeiro para São Paulo, o que provocou um aumento no número de diretorias, que incluíam pessoas responsáveis pela propaganda. Segundo Ana Maria Dietrich, 24, autora do capítulo sobre o Partido Nazista, até 1938 o governo brasileiro "fechava os olhos" para as atividades do grupo. A partir desta data, começaram a vigilância e a perseguição dos membros do partido. O rompimento das relações entre o Brasil e os países do Eixo, em 1942, marcou o acirramento da repressão contra a organização. Ana Maria Dietrich diz que a propaganda era uma das principais atividades do partido e era feita desde 1931, quando discursos de Hitler já eram distribuídos entre a comunidade alemã em São Paulo. Entre as empresas que davam cobertura ao Partido Nazista, a mais citada nos prontuários da polícia é o Banco Alemão Transatlântico, onde Otto Braun trabalhava. O banco teria sido um dos principais caminhos para a entrada de dinheiro no país para financiar as atividades dos nazistas. A polícia paulista da época também identificou uma célula militar do partido, conhecida como SO. Ela seria uma organização paramilitar que serviria como um exército reserva dos alemães dentro do país. Os jovens da comunidade que não tivessem condições de servir ao exército na própria Alemanha seriam obrigados a se apresentar, no Brasil, à SO. Próximo Texto: Grupos de espionagem agiam em diversos Estados Índice |
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