São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Votação do "fast track" pode ser adiada

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, trabalhou em ritmo frenético durante todo o domingo na tentativa de convencer deputados de seu próprio partido a votarem a favor da lei que lhe dá poderes para negociar acordos comerciais com outros países, o "fast track".
Até as 20h locais (23h em Brasília), suas chances de êxito eram mínimas e ele começava a admitir a possibilidade de retirar o projeto da pauta para reapresentá-lo ou na semana que vem ou só em janeiro.
O Congresso deveria ter entrado em recesso na sexta-feira. A pedido de Clinton, a Câmara se reuniu durante o fim-de-semana para debater o "fast track" (via rápida).
Clinton contou com o incomum apoio do presidente da Câmara e principal líder da oposição, Newt Gingrich, que é favorável ao "fast track". Gingrich disse ter garantido mais votos de deputados do seu partido do que havia prometido.
Mas, entre os aliados de Clinton, as deserções foram maiores do que as esperadas. Na tarde de domingo, dois deputados que Clinton esperava trazer para o grupo de votos a favor do "fast track" anunciaram que votariam contra ele.
A legislação da via rápida é considerada essencial para o êxito das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Em maio, em Santiago (Chile), reúne-se a segunda Cúpula das Américas. Se Clinton chegar a ela sem "fast track", será quase impossível cumprir o plano de instalar a Alca até 2005. A idéia da Alca pode até ser abandonada nesse caso.
Clinton disse que não iria negociar "questões de princípio" em troca de votos a favor da via rápida. Ele se referia à possibilidade de cortar verbas federais para programas de controle familiar no exterior para obter a adesão de mais deputados do Partido Republicano, de oposição. Se fizesse isso, no entanto, Clinton poderia perder alguns dos poucos votos que tinha no seu partido, o Democrata.
Nas negociações para ganhar aliados, Clinton prometeu incentivos fiscais a produtores agrícolas de regiões representadas por deputados indecisos. Um deles disse, em tom jocoso, que havia recebido promessa de construção de 16 pontes: "Agora só me falta o rio".
Uma derrota na questão do "fast track" não só retiraria de Clinton poder político para tratar de comércio com outros países como complicaria as pretensões de seu vice, Al Gore, de sucedê-lo.
O líder do governo na Câmara, Richard Gephardt, principal adversário de Gore pela candidatura presidencial do Partido Democrata em 2000, é o comandante dos que se opõem ao "fast track".
O tropeço de Clinton nesse tema significaria ainda mais uma demonstração do renascimento da "esquerda" na política dos EUA no final do século. Sindicatos de trabalhadores e entidades ambientalistas têm mobilizado a sociedade civil contra a via rápida.
Argumentam que acordos comerciais dos EUA com países onde a legislação trabalhista e ambiental é menos rigorosa prejudica os produtos e os trabalhadores locais.
Para o Brasil, pelo menos a curto prazo, o fracasso de Clinton poderia ter efeitos positivos porque daria mais tempo para o Mercosul se fortalecer.

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