São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997 |
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Oposição argentina reage à privatização
LÉO GERCHMANN
"Parece-me uma imprudência. Por quê? Porque entendemos que essa última privatização prejudica quem necessita de recursos, de uma poupança, e não pode ter", afirmou em entrevista à Folha a senadora Graciela Fernández Meijide (Frepaso). Segundo ela, "é realmente um erro de um governo que acaba de sair derrotado das eleições legislativas. É muito grave, muito sério. Esse banco atende a pequenas e médias empresas e a pequenos agricultores. Como é que vão ficar sem ele?", indagou a senadora. Gesto desesperado Na sexta, quando o governo anunciou a privatização, a medida causou surpresa entre os argentinos. O anúncio foi entendido como um gesto desesperado para sinalizar aos investidores que a saúde e as perspectivas das finanças públicas são boas. Quedas no mundo todo O anúncio ocorreu pela manhã, quando chegavam informações de quedas acentuadas nas Bolsas de Valores de todo o mundo e especialmente na Bovespa. Meijide interpretou, a exemplo de todos os analistas econômicos ouvidos na Argentina, o gesto como "de desespero" por parte do governo. Disse, mantendo o tom crítico, que é fundamental o governo ter reservas capazes de evitar esse tipo de comportamento, o qual, segundo ela, "atinge os mais necessitados". Contra a privatização Integrantes da UCR, empresários e políticos do PJ (situação) também protestaram contra a privatização do banco, que tem 106 anos, US$ 9,2 bilhões em depósitos, 526 sucursais (12,7% do total no país) e 15.364 funcionários (13% do total), acostumados a trabalhar com pequenos e médios empresários e agricultores. São, ao todo, 179.133 contas correntes e 625.458 poupanças. O presidente do banco, Roque Maccarone, calcula em US$ 4 bilhões o seu valor e afirma que a privatização pode deixar 80 mil agricultores sem acesso ao crédito. Interpelação O objetivo da oposição é interpelar o ministro da Economia, Roque Fernández, para que, na próxima quarta, exponha os motivos da privatização. Na semana passada, o ex-presidente Raúl Alfonsín (UCR), outro integrante da Aliança, já havia dado um sinal solitário de que a oposição estava resguardando as suas críticas em relação ao modelo econômico para evitar prejuízos eleitorais, mas que ela deveria, a partir de agora, afastar-se do discurso governista e assumir um "projeto de reparação nacional". A tática da Aliança, até o anúncio da privatização do Nación, era mostrar ponderação para não prejudicar o acordo que deve ser assinado nos próximos dias com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e para não fomentar a insegurança dos investidores em um momento em que a Bolsa de Valores vive uma crise global. O economista José Luis Machinea, ligado à Frepaso, chegou a ter reunião secreta na semana passada, em Washington, com o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, para mostrar que a oposição apóia a paridade entre o peso e o dólar. O acordo deverá ser assinado até o ano 2000, e a Aliança pretende assumir a presidência em 99, havendo interesse direto dela na sua assinatura. Atraso na abertura Na última sexta-feira, em razão das quedas nas Bolsas da Ásia e do Brasil, a abertura da Bolsa de Buenos Aires foi adiada em uma hora. No mesmo dia, foi oficializada a disposição de vender 49% das ações do Banco Ciudad de Buenos Aires, um dos maiores do país. No fim do dia, a Bolsa de Buenos Aires se manteve na casa dos 5% negativos. Texto Anterior: Argentinos temem desvalorização do Real e novas restrições a importações Índice |
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