São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Gaviões 'empurra' Corinthians para o gol

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

A caravana da Gaviões da Fiel foi para Goiânia e fez apenas o que repetem seus diretores: torceu para o Corinthians. Gritou em uníssono "Timão, timão" do apito inicial ao primeiro gol do time, aos 5min.
A palavra foi repetida mais de cem vezes nesse início do jogo. Na partida inteira, mais de mil.
A Folha acompanhou os 20 ônibus que a maior organizada do Brasil, com a ajuda financeira da diretoria do clube, levou a Goiânia. Foram 926 km, percorridos em 14 horas e 16 minutos.
Principal suspeita de armar a emboscada contra a equipe do Corinthians na rodovia dos Imigrantes, há quase um mês, a torcida se comportou de maneira surpreendentemente calma e silenciosa durante a viagem.
Não houve nenhum incidente grave até final do jogo. Em alguns momentos, mais parecia uma excursão de escoteiros, pela organização e obediência aos líderes, ou de escolares, pela brincadeiras.
Talvez pela presença da reportagem, um grupo de cerca de 15 pessoas mais próximas do comando -a "rapaziada", como dizem os gaviões- se responsabilizou por proibir brigas e manter a ordem no grupo, de mais de 900 torcedores.
Samba
Participar de uma caravana exige preparo físico e paciência. Na sexta, "Tuto", como pediu para ser identificado, trabalhou das 7h às 17h (faz manutenção de geladeiras industriais). Saiu de casa às 21h, mais de 24 horas antes do jogo.
Depois de duas horas e meia de metrô e ônibus, chegou à sede. Viu o ensaio da escola de samba. Não hesitou em dizer que valia a pena, mesmo com o risco do rebaixamento. "Amo o Corinthians mais que minha mulher."
Após o fim do ensaio, às 3h, os torcedores se aglomeraram diante dos ônibus correspondentes, em silêncio absoluto. Um carro que passou gritando "rebaixado" não arrancou mais de dois palavrões.
O silêncio se manteve até o início da viagem. Os primeiros gritos surgiram quando os ônibus começam a se movimentar, às 4h20, e duraram pouco.
A reportagem foi colocada no nº 10, um dos três da "elite" (os outros ficaram com os diretores) e aquele que transportou as bandeiras e os instrumentos.
O samba só parou às 6h. Depois, os Gaviões dormiram e deixaram dormir durante toda a manhã.
Batom
Na parada do almoço (leia abaixo), a Folha passou para o ônibus nº 6, ocupado majoritariamente por adolescentes da zona sul.
Apesar de diversas referências a maconha, ninguém usou drogas. A diversão era passar batom em quem estivesse dormindo.
Às 16h30, mais uma troca, mais um grupo de adolescentes.
No ônibus nº 15, dois grupos de amigos de Carapicuiba discutiam, trocando xingamentos sobre o odor e a beleza/feiúra de seus integrantes. "Bichinho virtual" foi um dos insultos.
Dentro do estádio Serra Dourada, a calma da viagem pareceu ser mais produto da falta de rivais.
O time de "pacificadores" da Gaviões agiu em pelo menos quatro oportunidades para evitar brigas, obrigando os torcedores da organizada e ficarem todos juntos, em um canto da arquibancada.
Em duas vezes, impediram que duas camisas do Goiás arrancadas de torcedores adversários fossem queimadas e as devolveram para os donos.
Os "pacificadores" tiveram mais trabalho depois do segundo gol do Corinthians, quando a vitória parecia assegurada.
Nos primeiros 25 minutos, a torcida não parou de gritar.
No segundo tempo, metade nem olhava para o campo. Preferia prestar atenção às correrias esporádicas que aconteciam do outro lado da divisão da tropa de choque goiana.
Um dos que mais se esforçaram para manter a ordem foi o diretor de esportes da organizada, que se identificou como Ivo. Fez ameaças e correu atrás do que chamou de "Gaviões de cabeça fraca". "Brigar é coisa do passado."
Os únicos alvos da violência verbal corintiana foram Eduardo José Farah, o presidente da Federação Paulista de Futebol -e a língua portuguesa: "Atenção, Farah, os gaviões nunca acabará".

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