São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Vida de Esther Dyson é puro rock and roll

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prepare-se, porque a coluna de hoje não trata de música e é barra-pesada.
Fala de tempestades familiares, pais que odeiam os filhos. De intelectos poderosos imersos na mesquinhez caseira, e de infortúnios juvenis em geral.
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Reina o caos no escritório nova-iorquino de Esther Dyson, 46, editora da "Release 1.0", uma das mais influentes (talvez a mais influente) publicações sobre computação do mundo.
Meias-calças, vidros de maionese, sutiãs dividem espaço com uma quantidade bestial de papéis. Esther abre caminho entre o lixo para chegar a sua mesa. Diz que não tem tempo para "jogar coisas fora".
Baixinha e muito magra, vive em um universo paralelo, sob regras sociais próprias. Ficou nua diante de um repórter da revista "Vanity Fair", que conhecera havia menos de duas horas, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Afinal, ela guarda as roupas no escritório e precisava se trocar para um almoço. Se o jornalista estava lá, problema dele.
Esther Dyson, explica "Vanity Fair", é filha de Freeman Dyson, um supergênio da física, autor de "Disturbing the Universe", clássico da divulgação científica. A mãe, Verena Huber-Dyson, é uma genial matemática austríaca.
Verena abandonou a família quando Esther tinha cinco anos. Ao saber pelo pai que a mãe tinha ido embora, não se abalou: "Depois que o leite acaba, ninguém precisa mais da mãe".
Esther tem um irmão, George, que para fugir da competição feroz que mantinha com ela mudou-se para uma casa na floresta, em cima de uma árvore, e vive como especialista em caiaques.
Ele quase nunca vê a irmã ("falo com ela cinco minutos por ano; leio sobre ela no 'Wall Street Journal'"). Apesar da reclusão, ainda mantém atividade intelectual. Lançou um livro sobre Darwin e tem certeza de que foi por isso que Esther, agora, vai lançar o dela também.
Esther Dyson não tem telefone. "Não precisa. A gente nunca liga para ela", fulmina o pai. A mãe, hoje no segundo casamento, diz ver a filha "15 minutos por ano, no saguão de algum aeroporto".
Esther nunca foi à casa da mãe. "Ela é muito ocupada e não tem interesse", resigna-se Verena.
Sobre a "Release 1.0", editada pela filha, dá a seguinte opinião: "Incrível como as pessoas pagam tanto para ter tão pouco. Nunca li nada inspirador ali".
A vida de Esther Dyson é puro rock and roll.

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