São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Ernesto Neto devolve o prazer à escultura

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ela dança". "Ela respira". "Ela te engole". É assim, como se falasse de seres vivos, que o artista Ernesto Neto descreve suas obras.
Na verdade, as quatro esculturas que apresenta a partir de hoje na galeria Camargo Vilaça são realmente seres vivos. Exalam aromas, excitam os olhos, seduzem o espectador e o envolvem na interminável trama dos sentidos. São extensões de seu próprio corpo, que se prolonga, à procura de uma relação mais intensa com o espectador. Mais que formas autônomas, são "bichos" para os anos 90.
Desde Lygia Clark e Hélio Oiticica, tem sido difícil encontrar artista que estabeleça relação tão epidérmica com o espectador.
O mais impactante dos trabalhos, por exemplo, "Espaçonave Ovo", é um ambiente em forma de cubo, em tecido elástico e transparente costurado, que ocupa todo o salão principal da galeria e envolve a única coluna do local. Uma abertura lateral convida o espectador para penetrá-lo.
"Considero ela mais uma escultura que uma instalação. No início, pensei em criar uma estrutura que envolvesse essa coluna fálica e balançasse com a entrada das pessoas, como se o ato sexual estivesse acontecendo naquele momento, mas o ato acabou sendo mais discreto", disse.
O ato também é explícito, mas igualmente discreto e refinado, em "Glop", escultura concebida em duas partes. A externa, em tecido elástico e bolinhas de isopor, é penetrada por outra com pimenta do reino e cravo em pó. Com ela, além da pele, o prazer entra também pelos olhos e narinas.
Os trabalhos de Ernesto Neto envolvem o espectador, em todos os sentidos, e remetem a Clark e Oiticica, mas sem a necessária contestação estética ou ética dos anos 60, com uma elegância adequada ao final dos 90. Mas todas essas palavras funcionam pouco para os trabalhos do carioca Ernesto Neto, que, mais que serem explicados, pedem que o espectador os veja, os cheire, os sinta e goze.

Mostra: Ernesto Neto (quatro esculturas)
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390) Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h

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