São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Navegador come pinguim e se arrepende

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DO ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA

Pinguins aparecem de forma curiosa na narrativa da primeira viagem ao redor do mundo, levada a cabo pelo português Fernão de Magalhães, a partir de 1519.
No ano seguinte, Magalhães e sua expedição cruzaram o extremo meridional do continente americano pelo canal que hoje todos conhecem pelo seu nome.
No relato do italiano Antonio Pigafetta, nobre toscano que acompanhou a viagem, os pinguins são chamados de "gansos".
Um tipo particular de ganso: "São pretos e parecem ter o corpo coberto de minúsculas plumas, sem ter nas asas as plumas necessárias para voar".
Pigafetta diz que havia tantos desses animais e eram tão mansos que serviram para uma abundante provisão destinada aos marinheiros dos cinco navios.
O uso dos pinguins para alimento, no entanto, despertou uma ponta de arrependimento nos aventureiros: "São tão graciosos que sentíamos pesar e não podíamos olhá-los quando tivemos de arrancar suas plumas".
Os pinguins, avistados e engolidos por navegadores do século 16, continuam habitando a Patagônia Atlântica. Permanecem graciosos, e há bom número deles na península Valdés -cerca de 1 milhão.
Conhecidos como pinguins de Magalhães, são ainda mansos, embora ruidosos, e parecem pouco se incomodar com a presença humana -mesmo quando turistas chatos e excitados enfiam suas câmeras fotográficas e de vídeo sobre os bichos ou tentam segui-los batendo chapas freneticamente.
Os pinguins concentram-se na península entre setembro e abril. Depois, deixam a região -muitos deles alcançam o sul do Brasil.
Caça
Se a visita à "pinguineria" é simpática, é bem mais impressionante a proximidade das baleias e dos elefantes-marinhos.
Dois tipos de cetáceos podem ser observados nas costas da península -a baleia-franca e a "superstar" orca, consagrada pelo cinema e pelos parques da Flórida.
A observação é feita a partir de Puerto Piramides, uma pequena localidade no golfo Nuevo, ao sul da península.
Dali partem barcos que levam os visitantes ao encontro desses esplêndidos mamíferos. Capas impermeáveis e coletes salva-vidas são fornecidos pelos serviços locais. Não há, contudo, perigo aparente. As baleias são pacíficas, e os barcos, modernos e seguros.
A observação é relativamente fácil. Os animais ficam bastante próximos da costa e deixam-se ver a dois ou três metros das embarcações. Pesquisadores da reserva já contabilizaram -e acompanham anualmente- cerca de 1.500 baleias que acorrem à região para acasalamento e reprodução.
Apesar da proteção imposta pelo governo e pela reserva, os técnicos locais dizem que a caça ainda é praticada, especialmente em alto-mar, quando as baleias deixam as águas da península. As rotas seguidas pelos animais não são conhecidas com precisão.
Igualmente imponente é a visão dos elefantes-marinhos. Desengonçados e lentos fora d'água, são ágeis e velozes no mar. Os machos vivem às turras, protegendo violentamente seus "haréns".
Os animais, enormes e estranhos, ficam à vista ao longo de uma grande e bela praia. Os turistas não podem descer à areia, mas há trilhas e locais próximos que permitem a observação e -claro- gravações e fotos.
(MAG)

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