São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Jogo da seleção podia ser substituído por bingo

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A eficácia da macumba é seletiva: valeu para o Corinthians, mas deu chabu para o Bahia e o Vitória.
Sobre a rodada decisiva do fim-de-semana, Alberto Helena Jr., em sua coluna de ontem, escreveu pouco, mas disse tudo: o futebol brasileiro está de cabeça para baixo.
Quanto à vitória do Corinthians em Goiânia, não se pode acusar ninguém de marmelada, mas que o time do Goiás parecia meio sonso em campo, isso parecia. Será que foi São Jorge que amoleceu os músculos dos jogadores goianos?
O mais alarmante de tudo é perceber que, até sábado, entre os clubes ameaçados de rebaixamento estavam o Corinthians (campeão paulista de 97), o Cruzeiro (campeão da Taça Libertadores da América de 97) e o Grêmio (campeão brasileiro de 96 e da Copa do Brasil de 97).
O que explica tão bruscas oscilações no desempenho dos maiores times do país, senão a incompetência e a avidez argentária de seus dirigentes?
No caso do Corinthians e do Grêmio, assistiu-se, após os títulos conquistados no primeiro semestre, a um verdadeiro desmonte de suas equipes.
Há um perverso círculo vicioso governando o futebol brasileiro: forma-se um bom time, ganha-se um título; os jogadores que se destacam vão para a Europa, em troca de dólares; o time despenca; começa tudo de novo. O público deixa os estádios, os clubes se descapitalizam, tornando-se vulneráveis às ofertas estrangeiras.
Para ver os maiores craques brasileiros, o torcedor tem de acompanhar os campeonatos europeus, torcendo para que algum dia um desses filhos pródigos torne à própria casa, como fizeram Zico e Júnior, ou à casa do inimigo, como Muller, Viola e Cafu.
O símbolo vivo desse desgastante vaivém de craques é Bebeto, tratado como gado, se não como peça de reposição, por cartolas de clubes e executivos de banco.
Estamos condenados a isso? Talvez não. Se nossos campeonatos forem mais sérios, nossos dirigentes mais profissionais, nossos atletas mais conscientes, talvez seja possível trazer o torcedor de volta aos estádios, o que seria a única garantia de um futebol de qualidade e com um mínimo de estabilidade.
São necessárias mudanças profundas e radicais (a lei Pelé, com ou sem modificações, pode ser um bom começo), e não medidas cosméticas, como garotas dançando como pompons e grupos de pagode vociferando seus clichês no intervalo das partidas.
*
Um exemplo da falta de seriedade com que o futebol é tratado no Brasil por seus dirigentes máximos é o "jogo do lobby" da seleção brasileira, programado para hoje, em Brasília.
Para que serve um jogo desses, com os jogadores catados de última hora, contra um adversário irrelevante em termos de competitividade?
Não vale como treino tático, nem como teste de jogadores, nem como espetáculo, nem mesmo como eventual demonstração de força.
Ah, vai servir para reformar a sede da Federação Metropolitana de Futebol de Brasília? Ora, por que não fazem um bingo ou uma rifa?

Matinas Suzuki Jr., que escreve nesta coluna às terças, quintas e sábados, está em férias

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