São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Empresas esperam retração nas vendas, mas ainda não demitem

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

Enquete realizada pela Folha após o anúncio do pacote fiscal do governo, em um universo de 50 empresas e entidades empresariais, revela que o temor de queda acentuada na atividade econômica nos próximos meses é praticamente consensual.
Como decorrência da retração econômica, a perspectiva de aumento das demissões, que já existia, ficou ainda mais evidente.
A maioria das empresas ainda não iniciou uma onda de cortes de vagas por conta do pacote fiscal do governo. Mas essa possibilidade não está descartada.
Apesar de ainda estarem digerindo as medidas do governo, muitas empresas já reavaliaram cronogramas de investimentos.
Algumas montadoras de veículos já reduziram a jornada de trabalho. É o caso da Volkswagen, que suspendeu o trabalho nas segundas-feiras e sextas-feiras, a partir de amanhã, nas fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté (SP). Com a paralisação, que até 1º de dezembro, deixarão de ser produzidas 15 mil unidades.
O diretor de Recursos Humanos da Volkswagen, Fernando Tadeu Perez, 43, disse ontem que há em estoque 22.400 veículos nas duas unidades da montadora e no porto de Paranaguá (PR).
A unidade de São Bernardo tem no pátio 13 mil veículos. Em Taubaté há outros 6.000, e no porto de Paranaguá, esperam comercialização 3.400 veículos importados pela montadora.
"Os estoques dos revendedores também não são pequenos, aliás bem elevados", afirmou Perez.
As férias coletivas da Volks serão de 22 de dezembro a 5 de janeiro. Perez disse que, se necessário, as férias coletivas poderão ser ampliadas.
Sobre a retração nas vendas de veículos, Perez disse que os índices de queda ainda estão sendo estimados pela empresa.
Já os 6.900 metalúrgicos da Ford em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) poderão ficar 24 dias em casa, a partir de amanhã. A proposta, apresentada ontem pela montadora, será colocada em votação hoje, às 16h, durante assembléia da categoria na porta da montadora.
A Ford, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que discute com os sindicatos da categoria do ABCD, São Paulo e Taubaté "a melhor maneira de solucionar uma paralisação periódica, adequando volume de produção com as novas perspectivas de mercado de veículos". Não haverá redução de salário.
O diretor do sindicato na Mercedes, Adi dos Santos Lima, 41, disse que a Mercedes-Benz suspendeu na semana passada 280 contratações temporárias que faria até o final do ano.
A Mercedes disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que existia "um estudo" para possíveis contratações temporárias, mas foi descartado. A decisão não tem relação com o pacote, segundo a empresa.
Uma assembléia para explicar o pacote econômico do governo reuniu cerca de 4.000 metalúrgicos (de três turnos) na manhã de ontem em frente à unidade da Mercedes em São Bernardo do Campo.
Hoje, às 16h, a assembléia está programada para acontecer em frente à unidade da Ford, em São Bernardo.
A Fiat Automóveis afirma que manterá a produção inalterada, mas já comunicou aos funcionários que as horas extras estão suspensas até segunda ordem.
Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Alvimar da Luz Dias, a empresa cancelou o trabalho extraordinário, que normalmente acontece aos sábados. De acordo com o sindicato, a convocação de horas extras estava sendo frequente.
A assessoria de imprensa da Fiat confirmou que há uma orientação da empresa de evitar as horas extras, mas disse que não há previsão se essa decisão será por tempo indeterminado.
O presidente da BMW do Brasil, Michael Turwitt, afirmou ontem que não irá alterar os investimentos programados pela montadora no país.
Segundo ele, a empresa mantém a previsão de iniciar as obras de sua fábrica de motores no interior do Paraná em conjunto com a Chrysler, que exigirá investimentos de US$ 500 milhões.
A maioria (55%) dos industriais gaúchos ouvidos pela Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul) afirmou que as medidas do pacote fiscal se justificam pela crise nas Bolsas.
A pesquisa, divulgada ontem, constatou que a medida mais dura adotada pelo governo federal foi o aumento das taxas de juros (86% dos entrevistados).

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