São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997![]() |
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O barco e os ratos
ELIANE CANTANHÊDE Brasília - O Brasil dobrou os juros, lançou um pacote na cara da classe média, acertou um aumento de três pontos nas tarifas comuns do Mercosul. Mas continua vulnerável.Mesmo os mais otimistas, como o próprio líder do governo José Roberto Arruda (PSDB), já admitem que "o barco está fazendo água". Se faz água na economia, faz água na política e no franco favoritismo da candidatura FHC-98. Deve ter sido essa relação de causa e efeito que levou ao Palácio da Alvorada, ontem à noite, os principais comandantes das duas áreas: a verdadeira cúpula tucana, Malan e Kandir. Os sinais de alarme do governo estão entrando em pane. Tocam os externos, com a crise nas Bolsas de Hong Kong. Tocam os internos, com as pesquisas. "Antes, caiu o Muro de Berlim. Agora, cai o muro deles, o muro de Hong Kong", dizia ontem no Congresso o deputado petista José Genoino. Mas não é exatamente a esquerda que está pegando a rebarba. Nem Lula nem Ciro. Quem mais capitaliza politicamente a crise é Paulo Maluf, pelo menos entre os paulistanos ouvidos pelo Datafolha. FHC caiu cinco pontos em relação a junho. Maluf passou de 11% para 20% -e dizendo-se candidato a governador, não a presidente. O ex-prefeito pode continuar jurando que não pretende mudar essa direção, mas ontem a bancada do PPB já deu um primeiro sinal de que pode muito bem pular do barco: apesar de todos os salamaleques de FHC para Maluf, apenas 38 dos 79 deputados (ou 48,1%) do partido votaram a favor da reforma administrativa. Malan, Kandir e Clóvis Carvalho passaram o dia de ontem ao telefone, tentando avaliar a disposição dos aliados diante do pacote e tentando dar o dito pelo não dito: ninguém admite mais mudar o aumento do IRPF. Se souberem ouvir o recado político, ele é um só: antes, era a esquerda que estava completamente perdida; agora, é também o centro e a base de apoio governista. FHC achava que botava Maluf no bolso. Maluf pode botar FHC nas Bolsas. Ele está de volta à ante-sala da sucessão presidencial. Texto Anterior: Deboche, puro deboche Próximo Texto: A mulher do padeiro Índice |
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