São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Músicos do Planet Hemp são soltos no DF

SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os seis integrantes da banda carioca Planet Hemp foram libertados ontem à tarde graças a uma decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que encontrou erros técnicos no flagrante que os levou à prisão.
O grupo deixou a cela onde estava na 3ª Delegacia de Polícia, no Cruzeiro, cidade-satélite de Brasília, às 14h28. Dos seis, o mais emocionado era o guitarrista Eduardo da Silva Vitória, o Jackson, 20, o mais jovem do grupo.
"Não chora, mãe. Eu estou bem agora, a gente está indo embora", disse ele ao telefone, falando com Sueli da Silva Vitória. Jackson ligou da delegacia para a casa dos pais, em Porto Alegre.
"Eu só quero tomar um bom banho", repetia o vocalista Marcelo Maldonado Peixoto, o D2, 30.
A banda ainda precisou esperar em uma sala da delegacia pelos alvarás de soltura, que só chegaram duas horas após eles deixarem a cela. Os músicos entraram em um furgão dentro do pátio da delegacia, sem ter contato direto com os cerca de cem fãs que estavam do lado de fora gritando "legaliza, legaliza". Era uma alusão à defesa que o grupo faz da descriminação da maconha.
"Estou um pouco frustrada, mas eu compreendo o estado deles", disse Carla Nunes, 17, que desde domingo, quando os músicos da banda foram presos, passou as tardes tentando falar com eles.
Fãs tentaram parar o furgão, sem sucesso. Houve um princípio de confronto entre eles e policiais do Grupo de Operações Táticas da Polícia Militar. Ao seguir o furgão, alguns fãs empurraram um veículo do GOT.
"Eles vão quebrar a viatura", gritou um policial, que empurrou os fãs. O soldado Arly Souza segurou o revólver dentro do coldre, mas não chegou a sacá-lo.
O grupo deixou a delegacia ouvindo os gritos dos admiradores e voaria para o Rio às 22h15.
O habeas corpus que garantiu a libertação dos músicos foi impetrado no dia anterior pelos advogados Nabor Bulhões e D'Alembert Jaccoud, que alegaram ter havido irregularidade na prisão do grupo. O desembargador Otávio Augusto Barbosa aceitou a argumentação. Os autos de prisão afirmaram que a "banda cantou várias músicas", mas não citaram trechos nem nomes das músicas.
Para o desembargador, isso não é suficiente para afirmar que a banda estava estimulando o uso de maconha. O inquérito policial aberto para investigar a banda pode ser arquivado pela própria polícia ou enviado ao Ministério Público. Se ocorrer a segunda hipótese, os músicos podem ser denunciados à Justiça. "O mais lógico e mais razoável seria arquivar o inquérito", disse Nabor Bulhões.
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) acha que a prisão da banda apressará a votação no Senado do projeto, já aprovado na Câmara dos Deputados, que descrimina o uso da maconha. "O episódio vai fazer com que haja uma nova política de drogas mais rapidamente."
D2 disse que o grupo vai seguir defendendo a liberação da maconha e não vai alterar a linha das letras das músicas. "A gente não vai amolecer." Mesmo assim, serão tomados alguns cuidados, afirmou Marcelo Lobato, 29, empresário da banda. "Vamos consultar o doutor Nabor para achar uma forma de fazer shows sem correr o risco de novas prisões."
O grupo deixou a prisão cansado, mas satisfeito com a publicidade que ganhou graças às grades. D2 disse que nos cinco anos de carreira a banda nunca apareceu tanto em meios de comunicação. "Nem no lançamento dos discos foi assim."

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