São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Se é para imitar a Europa, vamos imitar tudo

LUIZ ROBERTO ZINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje vocês terão a oportunidade de me conhecer um pouco, pois tudo que algumas pessoas sabem fazer é perguntar porque troco tanto de técnico.
Na realidade, todos os clubes brasileiros trocam de treinador. Por quê? Há uma carência de bons profissionais no mercado. Assim, observa-se um círculo vicioso, e sempre aqueles quatro ou cinco estão girando nos grandes clubes.
Administrar clube de futebol é muito difícil. No Guarani, por exemplo, é totalmente incompatível a relação receita/despesa. Tento dar ao Guarani uma condição de primeiro mundo, embora saiba que não há condições para isso.
Procuro sempre fazer bons negócios -como compra e venda de jogadores. O Guarani tem um departamento amador revelando sempre bons jogadores. Afora isso, o clube mantém condições dignas de um associado frequentá-lo.
O Guarani não é um clube privilegiado. Também está numa situação financeira muito difícil. Por sinal, com raríssimas exceções, todos os clubes brasileiros estão falidos.
Algumas coisas poderão ser feitas para tentar melhorar o nosso futebol. As TVs têm de pagar mais aos clubes, pois as cotas atuais são irrisórias. O Guarani, por exemplo, recebeu R$ 500 mil para disputar todo o Campeonato Brasileiro.
Outro exemplo, no antepenúltimo jogo nosso, contra o Grêmio, em Porto Alegre, com uma delegação de 32 pessoas, gastos de passagens aéreas e hotel, o Guarani ficou com a irrisória quantia de R$ 700,00.
Como fazer futebol se não há público nos estádios? Todo dia, quando o telespectador liga a TV, tem sempre a opção de escolher dois a três jogos de campeonatos do Brasil e de outros países. Há, portanto, a saturação, um desestímulo para o torcedor ir ao estádio.
Acho improcedente a lei do passe. Ninguém faz lei do dia para a noite. Na Europa, onde o Mercado Comum é livre, os contratos são geralmente de seis anos, algo impraticável no Brasil, devido à inflação.
Se tomarmos por base a Europa, teremos que tomar por base tudo, fazendo campeonatos com tabelas pré-elaboradas, estádios lotados e recebendo o que se recebe lá.
Os grandes clubes da Espanha, por exemplo, recebem da TV US$ 30 milhões por temporada. Os considerados pequenos recebem US$ 8 milhões, além da cota da Copa dos Campeões (US$ 2,5 milhões) e mais os jogos da Copa Uefa, negociados diretamente.
Recebem também pela transmissão pay-per-view. Esses valores, somados, permitem aos clubes a compra de um Ronaldinho por dia, se quiserem.
Eu, como presidente do Guarani, dedico todo o meu tempo administrando com todas as minhas forças o clube e o futebol. Existe em mim um amor tão grande pelo Guarani, amor esse que já nasceu comigo, pois meu pai aqui serviu durante 40 anos.
Espero que a crônica esportiva respeite sempre os presidentes de clubes, que geralmente são vaidosos. Alguns se aproveitam até para fazer política, mas são honestos e dignos.
Não podemos perder pessoas como o comandante Rolim, que abandonou o futebol decepcionado por ter recebido apenas cobranças, ingratidões e até agressões.

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