São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Igreja quer investigação de morte no AM

ALTINO MACHADO

ALTINO MACHADO; EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O sem-terra Elizeu da Silva foi achado morto em delegacia de Apuaí; laudo aponta suicídio

A CPT (Comissão Pastoral da Terra) do Amazonas pediu ontem ao Ministério Público do Estado abertura de inquérito para apurar as circunstâncias da morte do agricultor Elizeu Oliveira da Silva, 28. A CPT é um órgão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Silva, um dos líderes dos sem-terra no município de Apuí, foi achado morto quarta-feira na delegacia de polícia da cidade.
O auto de exame cadavérico da polícia -assinado pelo delegado Laércio de Souza Rodrigues, pelos médicos Sidrônio Timóteo e Silva e Carlos Alencar e pelo promotor de Justiça Marcelo Pinto Ribeiro- concluiu que o agricultor se suicidou com um "cordão resistente".
A versão da polícia e da promotoria está sendo contestada pelos parentes da vítima e pelos dirigentes locais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), para quem o corpo do agricultor apresentava sinais de tortura.
"A cabeça dele, acima da nuca, estava funda e parecia com uma melancia quando leva uma pancada", comparou, por telefone, um morador de Apuí que pediu para não ser identificado. O relatório médico diz que "não foram evidenciadas quaisquer escoriações, equimoses ou hematomas".
O coordenador da CPT no Amazonas, Adílson Vieira, disse ontem que as lideranças do MST em Apuí se refugiaram na floresta.
Vieira afirmou que os líderes estão com medo da polícia, pois o juiz Joaquim Almeida de Souza teria decretado, anteontem, a prisão do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuí, Antônio Costa; do líder do MST local, José Orlando Araújo, e de Humberto Queiroz.
Humberto é irmão do técnico agrícola Ivanir Queiroz, outro líder do MST, que no dia 21 de outubro foi baleado na cidade.
Araújo disse que Elizeu Silva mantinha várias atividades de luta pelos sem-terra e integrava o movimento no município, juntamente com outras 19 pessoas.
O comandante do destacamento da Polícia Militar em Apuí, tenente Marcos Beckman, negou ontem à Agência Folha, por telefone, que o juiz tenha decretado a prisão das lideranças do MST. O tenente disse que comandou a prisão do agricultor por ordem do delegado.
A ex-namorada de Elizeu, Creuza Oliveira de Freitas, a "Loira", 38, registrou queixa na delegacia, acusando-o de tê-la espancado, andar armado e ameaçá-la de morte caso não reatasse o relacionamento.
O secretário da Segurança Pública do Amazonas, Klinger Costa, disse que Creuza revelou à polícia que Elizeu Silva era fugitivo da Justiça da Rondônia. O tenente, o promotor e o secretário disseram que o agricultor teria avisado a uma de suas irmãs que se mataria caso tivesse de ser transferido para o presídio de Porto Velho (RO).
"Elizeu foi preso por causa do espancamento e das ameaças de morte, mas, depois, descobrimos que já havia um mandado de prisão contra ele", acrescentou Costa.
Segundo o secretário e o promotor, o agricultor estava condenado a 22 anos pela Justiça de Rondônia por ter assassinado um casal.
A CPT e as lideranças do MST informaram que pretendiam fretar um avião para que o corpo do agricultor fosse examinado em Manaus. Mas, segundo eles, a polícia e o promotor levaram o cadáver e o enterraram. O promotor contestou a informação. "Determinamos um segundo laudo para evitar dúvidas", disse.

Colaborou Edmilson Zanetti, da Agência Folha, em São José do Rio Preto

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