São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiros apóiam Declaração do Genoma

RICARDO ZORZETTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas brasileiros especializados em genética avaliaram favoravelmente a Declaração Universal do Genoma Humano, adotada nesta semana pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
A declaração, que deve ser ainda ratificada pelos 186 países-membros da Unesco, estabelece diretrizes para as pesquisas genéticas com base na noção de direitos e garantias individuais, chegando a proibir a clonagem de humanos.
Apesar de considerarem positiva a iniciativa da Unesco, alguns pesquisadores prevêem dificuldades para impor o controle às pesquisas com genoma humano.
É que, mesmo sendo ratificada, a declaração não garante o seu cumprimento, assim como ocorre com outros documentos reconhecidos por vários países.
Para Decio Brunoni, professor de genética da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a declaração é importante por ser o primeiro documento a tratar o tema em nível internacional.
"Antes, só se conheciam iniciativas individuais de cientistas ou instituições de pesquisa", disse. Por ter sido a declaração proposta pela Unesco, Brunoni disse acreditar que ela deverá ser acatada por todos os países.
Isaías Raw, diretor-presidente da Fundação Butantan, qualificou a declaração como "altamente ética e idealista". "Os direitos humanos chegaram ao genoma".
No entanto, Raw advertiu que a adoção da declaração deverá ficar por conta de cada país, uma vez que a Unesco não tem poder para impor as diretrizes do documento.
"A declaração contempla a preocupação de cientistas do mundo todo de proteger o homem da exploração comercial", disse Mayana Zatz, professora de genética médica e molecular do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
"Muitos centros de pesquisa terão de se adequar aos artigos da declaração, apesar de já possuírem comitês de ética, porque na genética há aspectos sobre os quais não se pensou ainda", afirmou Zatz.
A geneticista ressalta que o problema será controlar os laboratórios particulares. "Há cada vez mais testes de DNA (material genético) sendo fornecidos por laboratórios particulares, mesmo quando desaconselhados pela comunidade científica", disse.
Zatz destacou como pontos importantes da declaração o direito de a pessoa aceitar ou não se submeter a testes genéticos. "Uma companhia de seguros de saúde poderia pedir exame de DNA para saber se o cliente é portador do gene que causa determinada doença", disse.

Texto Anterior: Marrocos tem eleição direta para Câmara
Próximo Texto: Redação do documento durou quatro anos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.