São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Espaço garante público fiel ao centro

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem tem o privilégio de ter como vizinhos pontos históricos da cidade de São Paulo não tem dúvida. Não troca o centro por nenhum outro bairro.
A explicação para tanto apego se repete entre os moradores: apartamentos amplos, bons preços, facilidade de acesso e envolvimento histórico. E, é claro, o charme.
"Quem abre a janela e tem como vista os prédios antigos e a riqueza construída no centro?", pergunta Ronald Assumpção, 48, publicitário e presidente da CaliaAssumpção e Associados, morador há 18 meses de um apartamento de 402 m2 na avenida São Luís.
Fidelidade
O mesmo centro que atrai novos admiradores, como Assumpção, tem a fidelidade de pessoas como Goffredo da Silva Telles, 82. Desde 1947, o professor emérito da USP (Universidade de São Paulo) mora no centro da cidade.
"Tudo o que preciso e gosto está à minha volta. Meus amigos moram por aqui, e conheço todos os taxistas, barbeiros e pessoas que trabalham na região", diz ele, que vive na avenida São Luís, vizinho à Biblioteca Municipal.
No início, ele ocupava um apartamento de 400 m2. Depois, comprou o apartamento vizinho e quebrou as paredes. Fez o mesmo no andar de cima, onde montou seu escritório. Hoje, conta com 1.600 m2. "Tinha em minha coleção mais de 10 mil livros. Precisava de espaço para minhas reuniões."
Em sua casa, Telles cria três gatos, dois papagaios, dois pintassilgos e dois canários. O cenário bucólico é completado por duas figueiras, trepadeiras e flores. "Consigo ter no meu apartamento, em pleno centro da cidade, tudo o que teria em um sítio."
Década de 50
O sociólogo João Elísio Fonseca, 45, mora no centro há 27 anos. Fez a escolha pensando na localização. "O acesso é fácil para todos os lugares da cidade, e a estrutura de serviços e lazer é incomparável."
Seu duplex, de 160 m2, fica no Edifício Eiffel, na praça da República, construído por Oscar Niemeyer na década de 50 -onde já moraram o compositor Edu Lobo e o humorista Juca Chaves.
"É uma região cheia de história, praças, jardins e calçadas largas. Deveriam voltar a olhar para o centro como uma boa opção de moradia na cidade", diz Fonseca.
O psiquiatra João Baptista Breda, 60, também morador do Eiffel, mora no centro desde os anos 50. "O centro é fantástico. A região oferece toda a infra-estrutura que preciso", diz.
Qualidade de vida
Moradora da praça da República há poucos meses, Tereza Rodrigues diz que percebeu uma mudança na qualidade de vida dela e do marido, o publicitário Carlito Maia, 73.
"A história de vida do Carlito foi toda ligada ao centro. Agora ele tem tudo por perto, morando em um apartamento espaçoso por um preço ótimo."
O casal morou no bairro dos Jardins (zona sudoeste) por 13 anos, mas, no meio deste ano, sentiu necessidade de um espaço maior, que acomodasse o equipamento de enfermagem de Maia.
"O preço do apartamento, considerando seu tamanho, cerca de 320 m2 de área útil, é impossível de achar em qualquer outra área da cidade."
O diretor de filmes publicitários Luiz Ferré, 39, gaúcho, mora há dois anos no mesmo edifício de Maia e Tereza, onde também mora o decorador Conrado Malzone.
Ferré já filmou a fachada do prédio duas vezes, para trabalhos publicitários. "Sempre achei essa arquitetura muito interessante."
Problemas
Tanta paixão não impede que os adeptos da região central vejam os problemas que acompanham sua opção de moradia.
A sujeira, o abandono, os moradores de rua, o tráfico de drogas e a violência são fatores que figuram na lista de reclamações.
"O número de moradores de rua é tão grande que, depois que anoitece, eu não tenho coragem de sair de casa. É a sensação de perigo", diz Breda.

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