São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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Carência educacional

MAURÍCIO SOARES

No Brasil, hoje, temos 3,6 milhões de crianças e adolescentes analfabetos. Que perspectiva de vida se abre para esses 16,1% de jovens brasileiros entre 11 e 17 anos que não sabem ler nem escrever?
Calcula-se que 99% dos jovens japoneses e 94% dos coreanos cheguem ao segundo grau. Entre os brasileiros, esse índice cai para 39%, bem inferior à média mundial, de 54%, sendo que apenas 60% das crianças que entram na 1ª série chegam até a 4ª.
É nas escolas que se revelam os talentos e vocações dos brasileiros que construirão o Brasil do futuro.
Mas que futuro terão nossos jovens com uma carência educacional tão profunda? Praticamente nenhum. Sem educação, não terão condições de assimilar novas tecnologias e ficarão fora do mercado de trabalho.
Nos países desenvolvidos, o nível de instrução dos trabalhadores atinge o segundo grau completo, enquanto no Brasil a média fica no patamar de três anos e meio. Sem educação, só restará aos jovens a sobrevivência no mercado paralelo dos "bicos" e até no do tráfico de drogas ou na bandidagem.
As grandes revoluções realizadas pelos países emergentes na educação começaram pelo ensino básico, que só agora vem sendo priorizado no Brasil. Mas educação não se faz só com recursos. É preciso melhorar em muitas frentes.
Uma delas passa pela valorização do professor, que precisa ser mais bem treinado, remunerado e avaliado. As carências educacionais só serão superadas se conseguirmos prover uma educação básica universalizada e de boa qualidade.
A escola não ensina apenas a ler e escrever: ela forma cidadãos. É por meio dela que se conseguirá mudar a realidade socioeconômica do país, do Estado ou da cidade.
Precisamos reduzir o tempo gasto para o aluno concluir o 1º grau -mais de 11 anos, em média. A Prefeitura de São Bernardo do Campo vem fazendo sua parte, preparando e remunerando melhor seus professores e combatendo a evasão e a repetência.
Sem dúvida, a realidade muitas vezes atua em sentido contrário. De um lado, temos os pais que tiram as crianças da escola, premidos pela necessidade de que seus filhos trabalhem.
De outro, temos a municipalização do ensino, que começa no próximo ano e que não arregimentou recursos suficientes para sua execução; apenas carreia 60% dos atuais 25% do orçamento para esse fim. Não reconhece, entre seus gastos, programas importantes como o da merenda escolar, decisivos para vencer a evasão escolar.
A despeito dessa "prova de fogo", as administrações públicas terão de se superar para universalizar a educação básica.
A boa educação é o principal veículo para viabilizar a mobilidade social, porque possibilita colocação em um melhor emprego e melhor qualidade de vida.
É essa lição de casa que as administrações públicas terão de cumprir em 1998, a despeito das limitações impostas pela lei que municipaliza o ensino básico.

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