São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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Pegaram a Di; o próximo pode ser...

GUSTAVO IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pronto. Tava demorando, mas o prato era muito apetitoso pra ser deixado de lado. Finalmente, começam a emergir teorias conspiratórias sobre a morte da princesa Diana.
O enredo diz que sua morte foi obra da coroa britânica, que queria impedir um meio irmão escurinho ao futuro rei da Inglaterra, já que Di andava plantando sua beterraba no quintal do playboy egípcio Dodi Fayed. Dizem os proponentes da teoria que uma bomba teria sido plantada na Mercedes e acionada por controle remoto (direto do palácio de Buckingham!) pela própria rainha.
O monte de bobagens e especulações que cercam a morte de Diana é só um capítulo a mais na longa e prolífica história das teorias conspiratórias que fascinam os gringos. O pessoal daqui acha que, na verdade, tudo é uma tramóia de alguém, e o resto da população é enganada. Com exceção de alguns poucos casos (como o assassinato de JFK), nem é preciso dizer que se trata de delírio coletivo.
Antigamente só se conspirava sobre a morte do Elvis (vivinho, jogando golfe na Flórida), da Marylin Monroe (assassinada pelo Bob Kennedy) e sobre os eternos discos voadores e ET's ("fui sequestrado por um, tinha cinco olhos no cotovelo e raio laser saindo do nariz..."). Mas, hoje, tudo é conspiração.
Desde o julgamento do O.J. Simpson até a maldade da Receita Federal, imagina-se que sempre há alguém nos bastidores tramando algo.
Acho que é uma tentativa de aliviar a vida modorrenta que o pessoal leva aqui. Porque, se você mora em Montana ou Nebraska e trabalha das 9h às 5h e depois fica plantado na TV até a hora de dormir, nada melhor do que viver sua vida por meio de outra pessoa. De preferência, famosa e misteriosa, para que você possa dar uma de Sherlock Holmes e tentar descobrir a "verdadeira verdade".
Se essa mania pegasse no Brasil, finalmente descobriríamos a realidade sobre alguns episódios da nossa história, como:
ACM e Betinho eram, na verdade, a mesma pessoa. Betinho foi inventado por ACM para contrapor o seu lado malvado e gordo. O mestre teria decidido acabar com a criatura quando seu filho Luís Eduardo virou o repositório da bondade, fazendo Betinho desnecessário. (Ter de usar aquele colete cada vez mais apertado pra esconder as banhas também ajudou na decisão.)
O impeachment do Collor foi obra proposital de Itamar Franco e Rosane Collor. Os dois seriam do serviço de inteligência (tá, talvez essa já seja demais) e, apaixonados, teriam resolvido derrubar o presidente. (Rosane acaba não resistindo no final, quando Fernando lhe alicia com a promessa de casa em Miami e aulas de inglês.)
FHC, na realidade, morreu naquele dia em que comeu buchada de bode e andou de jegue na campanha. Esse aí que governa é o Roberto Campos. Que, aliás, parte do clube dos imortais, junto com Roberto Marinho -daí a ajuda da Globo, que usa efeitos visuais sofisticadíssimos para dar a impressão de que aquele boneco é FHC. (Mas, psssiu, não comente, nem com a família. Esse que você acha ser seu pai pode ser...)

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