São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Galeria funciona em apartamento

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Proprietários de uma galeria em Belo Horizonte resolveram surpreender sua clientela e estão expondo as obras em seu próprio apartamento, em um prédio residencial da zona sul da cidade.
O nome da galeria, 201, é o número do apartamento, onde mora um dos proprietários, o publicitário Henrique Oliveira, 27.
O público-alvo da nova galeria são solteiros e casais sem filhos, consumidores de eletrodomésticos de última geração que ainda não descobriram as vantagens de ter uma obra de arte em casa.
Para o outro sócio, José Roberto Furtado, 34, a proposta da galeria se baseia na imprevisibilidade da arte contemporânea. Segundo Furtado, a galeria cria uma tensão entre o comprador e a obra que acaba incentivando a aquisição.
"Nós estamos mostrando para as pessoas que não existe lugar específico para arte. Com isso, elas vêem que podem ter uma obra de arte em casa e que vai ficar bonito. Tudo é possível", diz.
Ele diz não acreditar, no entanto, que a mesma proposta servisse para obras tradicionais, como paisagens. "A imprevisibilidade faz parte da arte contemporânea."
O apartamento permite uma maior intimidade do comprador com a obra, ajudando-o a visualizar como a obra ficaria em sua casa. "Em uma galeria, a obra se perde no pé direito alto. Aqui, ela está mais presente", explica Furtado.
A idéia, no entanto, nasceu da necessidade de reduzir custos com aluguel, funcionários e manutenção do espaço para que a galeria fosse mais maleável na seleção de novos artistas. "Nós temos liberdade de ousar esteticamente e trabalhar com artistas desconhecidos", diz Oliveira.
Atualmente, estão expostas só obras de artistas mineiros, que ocupam as duas salas e um dos três quartos do apartamento. Nos outros quartos, ficam o escritório da galeria e a cama de Oliveira.
Ele já morava no apartamento, mas não reclama da perda de privacidade, porque os clientes são atendidos com hora marcada.
"Sempre quis morar em uma casa com muitas obras de arte. Agora realizei meu sonho. É um grande prazer acordar à noite e ficar andando entre as obras", afirma.
Para explorar as possibilidades do espaço, o artista plástico André Burian foi convidado a transformar o banheiro do apartamento em obra de arte para a inauguração da galeria, no mês passado.
A proposta ganhou o nome de "room art" (arte de cômodo) e o banheiro foi batizado de "art room" (cômodo de arte).
Dentro da linha de seus quadros, que mostram pessoas com os braços e pescoços cortados e sem cicatrizes, expondo o sangue na parte esquartejada, ele pintou de vermelho as paredes, o vaso, a banheira e o chuveiro.
Oliveira diz que, todas as manhãs, tem de enfrentar o banheiro "ensanguentado". À medida que vai sendo usado, no entanto, a tinta vai desaparecendo, fazendo com que a obra tenha duração limitada.
Os donos da galeria dizem que já receberam uma encomenda para que Burian, que está viajando no exterior, faça uma "room art" na casa de um cliente.
(CHS)

Texto Anterior: Atividades continuam até o final do ano
Próximo Texto: Mudança de lugar é tema para evento
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.