São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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Interesse pelo outro lado do mundo gera cada vez mais viagens

ALFREDO SPÍNOLA DE MELLO NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Brasil e Austrália são dois países unidos pela distância que os separa. Esse aparente paradoxo tem uma explicação singela: o fascínio natural de viajar para o outro lado do mundo vem atraindo todos os anos um número sempre maior de brasileiros e australianos, cada qual na busca de seu antípoda, de seu contrário, de seu avesso.
No campo mais evidente, o do turismo, em 1996 a embaixada australiana em Brasília emitiu pouco mais de 7.000 vistos, representando um acréscimo de 44% em relação ao ano anterior.
No mesmo período, nossa embaixada em Canberra e o consulado em Sydney emitiram cerca de 5.300 vistos, apresentando percentual de crescimento semelhante.
Pode-se argumentar que ainda são números pequenos.
Deve ser considerado, contudo, antes de dar vez à falácia, que o fluxo iniciou-se com alguma consistência há pouco tempo -coisa de seis ou sete anos, apenas.
A base que deu origem a esses números era efetivamente muito pequena, mas, convenhamos, um índice de crescimento anual superior a 40% não é nada mau.
E esse índice vem se mantendo crescente: a tendência para este ano é que atinja os 50%.
A Comissão Australiana de Turismo cresce os olhos quando fala do Brasil.
Vivien Flitton, gerente do órgão para a América Latina, afirma: "Estamos muito distantes de alcançar a plenitude de nossas potencialidades no que se refere ao fluxo de turistas brasileiros para a Austrália, especialmente se ponderarmos que megaeventos como as Olimpíadas do ano 2000 irão concentrar o foco das atenções sobre meu país. Nossas projeções indicam que o Brasil irá representar um papel de relevo no turismo receptivo australiano num futuro próximo".
Reciprocidade
Mas não vamos ficar apenas no mais evidente. Há indicadores, talvez até mais significativos, do crescente interesse recíproco.
Celebrou-se em 1995 o cinquentenário do estabelecimento das relações diplomáticas. Os dois países demonstraram o apreço mútuo ao designar como chefes das missões diplomáticas embaixadores do mais alto nível.
Renato Prado Guimarães foi um dos pioneiros no Itamaraty a dedicar-se ao comércio como fator de fomento das relações bilaterais, sepultando para sempre a "diplomacia dos punhos de renda".
Charles Mott, anteriormente embaixador na Unesco, tem sido incansável na busca de posições que estreitem e consolidem os vínculos entre as duas populações.
Na política e no comércio internacionais, Brasil e Austrália têm atuado de forma a implementar uma agenda comum.
É prioridade para ambos a redução e a eliminação de barreiras impostas ao livre comércio, tanto as tarifárias quanto as não-tarifárias.
Somos membros atuantes do Grupo de Cairns, presidido pela Austrália e que se dedica a alcançar um regime mais justo para a exportação de produtos agrícolas.
Temos também mantido posições idênticas nos foros internacionais que tratam do desarmamento.
Os dois países fazem parte do Grupo de Valdívia, que congrega países do hemisfério Sul (África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Nova Zelândia e Uruguai) com vistas a uma posição comum sobre o ar ambiente.
Mercosul
Outro fator de aproximação é o grupo chamado CER-Mercosul. CER é a sigla para Closer Economic Relations, bloco econômico formado por Austrália e Nova Zelândia. Essa aproximação já vem rendendo frutos que irão beneficiar de forma concreta as populações dos dois países.
Apenas dois itens da extensa pauta de negociações dão a dimensão do alcance que se pretende atingir: a elaboração de normas comuns aos bois blocos para o trato alfandegário de mercadorias que os países-membros exportarem ou importarem entre si e o reconhecimento recíproco das qualificações acadêmicas.
O comércio bilateral alcançou em 1996 o montante aproximado de US$ 650 milhões, dividido quase igualmente entre o que importamos e o que exportamos.
Enviamos principalmente celulose e papel, café e sucos. Em contrapartida recebemos carvão, cereais e petróleo.
A Câmara Oficial de Comércio Brasil-Austrália vem desempenhando sua função no conjunto das relações entre os dois países com especial dedicação.
Ela reúne brasileiros e australianos aqui residentes, pessoas físicas e jurídicas, motivados pelo ideal comum de incrementar o relacionamento comercial, cultural, esportivo, turístico, tecnológico e de qualquer outra índole como forma de potencializar os benefícios decorrentes da aproximação das nossas populações.
São industriais, advogados, agentes de viagens, jornalistas, comerciantes ou simplesmente pessoas quem amam o Brasil e a Austrália. Todos serão bem-vindos para colaborar com essa missão que para nós não é apenas nobre, mas, sobretudo, sublime.
Não cabe no âmbito deste artigo alongarmo-nos por todas as nuances que envolvem as relações entre Brasil e Austrália. Por sua riqueza e complexidade, elas mereceriam uma longa dissertação.
Ficam tão somente esses poucos dados que, espero, tenham fornecido uma visão panorâmica, embora necessariamente superficial, do intricado conjunto das relações entre nossas populações, que, apesar de viverem separadas pela geografia, estão unidas pelos laços da amizade fraterna.

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