São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Lula diz ao PT que aceita ser candidato

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva comunicou ontem à Executiva Nacional do PT que aceita ser o candidato único dos partidos de oposição à Presidência em 98. Mas cobrou compromissos para que possa subir em um palanque unificado das legendas de esquerda.
O primeiro compromisso é uma estratégia política. Lula pediu à direção do partido para organizar uma pesquisa de opinião pública nacional, junto com PDT, PSB e PC do B, para que, a partir das respostas dadas, surja o perfil do candidato das oposições e o esboço de discurso que ele adotará.
Antes da realização da pesquisa, cada um dos partidos apresentaria um nome de dentro dos seus quadros para disputar a Presidência.
"No PT, esse nome pode ser o meu. Não recusaria a indicação para disputar uma eleição presidencial, afinal presidir o Brasil é uma honra. Mas o PT -que possui enorme vantagem sobre os demais partidos de oposição, porque tem uma bancada maior no Congresso e por ter sido mais votado nas duas eleições anteriores- precisa ser humilde e perguntar aos outros se têm nomes para ocupar a candidatura. Depois fazemos a pesquisa", disse à Folha.
Plataforma econômica
O segundo compromisso pedido foi o endosso a um elenco de projetos seus. Quando postos no papel, vão se tornar a base de uma plataforma econômica. Lula quer aproximar o PT dos pequenos e médios empresários, dos exportadores e da classe média.
O petista acredita que a crise econômica iniciada com a queda nas Bolsas pôs em xeque a certeza governista de vitória em 98 e que, para vencer a eleição, precisará ter menos discursos teóricos e mais modelos e experiências para apresentar nos palanques.
Lula quer integrar as oposições com os pequenos e médios produtores rurais, vistos como setores conservadores da sociedade e que fazem oposição ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Será a minha terceira campanha presidencial, caso seja escolhido como candidato das oposições. Aprendi que não posso fazer um discurso que nos isole da sociedade", preocupa-se.
Comportando-se como pré-candidato, Lula pediu ao partido para intensificar e aprofundar o debate interno sobre cinco idéias suas.
Uma delas é a universalização do crédito agrícola para pequenos e médios produtores com garantia de compra da safra.
Outra, uma reforma tributária e fiscal instituindo o imposto sobre heranças e grandes fortunas e aumento das alíquotas dos investidores do mercado financeiro em benefício de quem tomar dinheiro emprestado para administrar investimentos produtivos (fábricas, comércio ou agricultura).
Quer, ainda, condições para conceder crédito a juros subsidiados pelos bancos públicos para quem desejar montar cooperativas agrícolas ou industriais.
Pretende também fortalecer o Estado nas atividades de regulação do mercado nas áreas de concessão de serviços públicos, nas quais empresas estatais foram ou venham a ser privatizadas (setor elétrico, telefonia, malha rodoferroviária).
Defende a procura de estímulos à poupança interna do brasileiro para tornar a economia local menos vulnerável a tremores externos, como o recente crash global iniciado pelas quedas nas Bolsas de Valores asiáticas.
Lula pretende usar contra FHC o discurso que publicitários e políticos do PSDB e do PFL vêm usando para iniciar a campanha de reeleição do atual presidente.
"Fernando Henrique diz por aí que, sem ele, será o caos na economia e isso destruiria o Brasil. Vou tentar convencer o povo, os empresários e até os investidores estrangeiros de que, na verdade, se ele permanecer virá o desastre. O pacote fiscal só foi necessário porque o governo não cuidou de arrumar a casa nos primeiros três anos de mandato. Temos que denunciar essa situação", disse.

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