São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Tuberculoso abandona mais tratamento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O número de pessoas que abandonam o tratamento contra tuberculose voltou a subir depois de uma tendência de queda que durou três anos.
Levantamento divulgado ontem pelo Ministério da Saúde mostra que 14,8% das cerca de 90 mil pessoas medicadas no ano passado abandonaram o tratamento. Isso representa 13,3 mil pessoas.
Em 1995, o índice de pessoas que abandonaram o tratamento foi 14,3%. Os índices foram 15,8% em 1994 e 16,2% em 1993.
Miguel Aiub Hijjar, coordenador nacional de Pneumologia Sanitária, diz que a culpa pelo abandono é do serviço público. "Tudo que é continuado no serviço público é complicado", afirma.
A tuberculose é tratada com medicamentos que devem ser usados durante seis meses. Segundo Hijjar, drogados, alcoólatras e sem-teto são as pessoas que mais abandonam o tratamento. Ele afirma que é preciso facilitar o acesso aos remédios, todos gratuitos, e reduzir a demora no atendimento.
O Ministério da Saúde está experimentando o chamado tratamento observado. As pessoas que recebem o medicamento precisam tomá-lo no posto de saúde, em frente a um funcionário público.
O abandono do tratamento é apontado por Hijjar como a principal causa do surgimento de bactérias resistentes aos medicamentos contra a tuberculose.
No Brasil, o índice de resistência à rifampicina, a principal droga contra a doença, é de 1,3%. O número foi apurado na mesma pesquisa por amostragem que avaliou o abandono do tratamento. Foram analisados 3.422 casos.
Hijjar diz que o índice brasileiro de resistência é baixo. Na Argentina, 7,8% dos pacientes se tornam resistentes ao tratamento com a rifampicina.
Quando um paciente com tuberculose está sendo tratado, as bactérias mais fortes são as últimas a desaparecer. Se o tratamento é interrompido, essas bactérias mais resistentes se reproduzem.
Além do tratamento do doente ficar mais difícil quando há resistência, uma outra pessoa pode ser contaminada com as bactérias já resistentes.
Casos de resistência precisam ser tratados com medicamentos mais potentes. O custo total do tratamento passa de R$ 75 para mais de R$ 4.000, diz Hijjar.
No Brasil, cerca de 120 mil casos de tuberculose surgem anualmente, conforme estimativas do Ministério da Saúde. Aproximadamente 6.000 pessoas morrem a cada ano por causa da doença.
Estimativas mundiais mostram que 8 milhões de novos casos de tuberculose surgem no planeta por ano. Pelo menos 2 milhões de pessoas morrem. Ontem foi o Dia Nacional do Combate à Tuberculose.

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