São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Promotor pede a extinção da Gaviões

ARNALDO RIBEIRO

ARNALDO RIBEIRO; LUIZ CESAR PIMENTEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Fernando Capez, emboscada sofrida por time corintiano sepulta as chances de volta das organizadas

O promotor da Cidadania Fernando Capez entrou ontem na Justiça com pedido de dissolução da maior torcida organizada do Brasil, a corintiana Gaviões da Fiel, que tem 58 mil sócios.
A decisão foi tomada após um mês de investigações sobre a emboscada que o time corintiano sofreu em 15 de outubro, na rodovia dos Imigrantes, em São Paulo.
O ônibus dos jogadores foi interceptado e depredado por torcedores, que pertenceriam à Gaviões.
"É lamentável, mas foi uma decisão tomada com serenidade, sem a emoção do futebol", disse Capez.
"Acho um absurdo punir uma entidade por causa de 40 pessoas que apedrejaram o ônibus e ninguém sabe de onde vieram", afirmou Douglas Deungaro, o "Metaleiro", presidente da Gaviões.
Segundo Capez, a ação, em princípio, só deve atingir a "parte futebolística da Gaviões".
"Eles devem encontrar uma saída jurídica para manter a escola de samba em funcionamento."
A documentação enviada à Justiça tem 20 volumes e 74 páginas. "São provas suficientes para fechar a torcida", afirmou o promotor, que disse ainda que centenas de componentes da Gaviões estão envolvidos em crimes, tráfico e consumo de drogas.
"Tive quatro testemunhos fortes, o principal deles do chefe de segurança do Corinthians, Paulo Roberto Perondi, que estava no ônibus apedrejado", disse Capez.
Ele acredita que a ação será julgada em seis a sete meses, após o juiz designado ouvir a parte da defesa.
Fim de negociações
Para Capez, o processo sepulta de vez a tentativa de volta das torcidas organizadas, que estão banidas em São Paulo desde 1995 por um ato administrativo da Federação Paulista de Futebol.
"Vinha conversando com alguns chefes de torcidas nesse sentido, mas essa emboscada foi uma grande decepção. Perdemos completamente a confiança neles. Sinto-me traído", afirmou.
"Esperamos que as torcidas parem de agir assim. Já que, a cada ato de vandalismo, um novo processo desse de extinção será instaurado", acrescentou.
Capez já havia conseguido a dissolução da Mancha Verde, do Palmeiras, e tentado o mesmo com a Independente, do São Paulo.
Inconformismo
O fim da perspectiva de retornar aos estádios revoltou os componentes da Gaviões.
"Cerca de 80% dos nossos associados têm de 15 a 23 anos e moram na periferia. Se o comando da polícia não consegue controlar 70 mil soldados, não serão os Gaviões que conseguirão controlar 60 mil sócios", afirmou Deungaro.
"Somos um dos culpados pela violência, mas não podemos virar bode expiatório. Não somos uma ilha de violência num futebol podre, que é dirigido por pessoas que só querem se promover. Fazemos parte do contexto", disse Alex Simão Araújo, porta-voz da torcida.
"Se o poder público e a FPF fossem competentes, colocariam delegacias móveis e um juizado de pequenas causas nos estádios."
"O futebol paulista não ganhará mais nada sem torcida organizada. Nossos times hoje jogam em campos neutros", disse Deungaro.
A diretoria do Corinthians e do patrocinador do time, o banco Excel Econômico, reagiram com cautela após a decisão de Capez.
Ambos já se manifestaram favoráveis às torcidas organizadas.
"Se o Capez está agindo assim, é porque tem provas. Se a torcida é violenta, tem que acabar mesmo", disse o diretor de Esportes do Excel, Mário Sérgio Pontes de Paiva.

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