São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Bob Marley se liquefaz em dub
MARCELO NEGROMONTE
Bob Marley ficou líquido. Ganhou espacialidade e fluidez balsâmicas. Produzido pelo craque e baixista polêmico Bill Laswell, o disco tem versões de hits e músicas menos conhecidas de Marley, com predominância do baixo e bateria seca emoldurados por ecos, reverberações, conferindo-lhe o caráter onírico típico do dub, bisavô do drum'n'bass. Tão jamaicano quanto o reggae, o dub surgiu no final dos anos 60 e é uma técnica que consiste em inserir na música efeitos ambient (viajantes mesmo), aumentando a potência do baixo e bateria (tocados aqui por Aston Barret e seu irmão Carlton Barret, respectivamente) e suprimindo o vocal. É atavismo tecno. Gravado a partir de fitas originais, "Dreams of Freedom" conta com a participação do excelente trio de backing vocal I-Tree, formado por Rita Marley (a ex-mulher), Juddy Mowatt e Marcia Griffits. Apenas em "Midnight Ravers", Bob Marley as acompanha com sua voz. O disco começa com "Rebel Music (3 O'Clock Roadblock)", com uma predominância maior para o piano e efeitos de eco a dar com o pau e engata uma "No Woman No Cry", que faria qualquer padre viajar dias seguidos. "Waiting in Vain", "Exodus" (as idas e vindas dos efeitos mesclados com o backing são delirantes), "Is This Love", "So Much Trouble in the World" (com a percussão do senegalês Aiyb Dieng) também estão lá belissimamente desconstruídas. Até demorou esse primeiro disco dub do rei do reggae, que só tinha versões assim em faixas-bônus de alguns de seus discos. Numa época em que, graças a artimanhas tecnológicas, "sobras de estúdio", ensaios e entrevistas chinfrins para rádios são o grande mote para lançamento de artistas mortos ou extintos (Beatles, Doors...), "Dreams of Freedom" está muito longe de ser qualquer espécie de caça-níquel post-mortem rastafari. A Nasa deveria enviar esse disco (e não um sambinha) para o espaço. Ia soar familiar em Urano. Disco: Dreams of Freedom Artista: Bob Marley Lançamento: PolyGram Quanto: R$ 18, em média Texto Anterior: 'Não sei se existe um nome para o que sou' Próximo Texto: "Akology" é o melhor de Perry Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |