São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Peter Tosh, de carreira tortuosa, ganha caixa de luxo

SÉRGIO MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao lado de Bob Marley, o cantor Peter Tosh foi um dos responsáveis pela disseminação mundial do reggae. Mas nunca gozou da mesma popularidade do parceiro famoso. Ao contrário: quando foi assassinado em 87, Tosh devia dinheiro para Jah e o mundo e implorava por shows que o tirassem do limbo em que estava.
A caixa "Honorary Citizen", porém, mostra que a situação desconfortável de Tosh se devia muito mais ao seu comportamento irascível do que à falta de talento. São três CDs num caixote luxuoso, com textos de Roger Steffens.
Os CDs ajudam a acompanhar a tortuosa trajetória de Winston Hubert MacIntosh, rapagão criado nas ruelas de Kingston e com um pé na marginalidade. "Jamaican Singles", o primeiro CD, retrata o início de sua carreira.
Há negações ao cristianismo ("You Can't Fool Me Again"), parcerias ao lado dos Wailers ("You Can't Blame the Youth", "Fire Fire"), cover dos Beatles ("Here Comes the Sun") e uma versão primitiva de "Legalize It".
Nelas, Peter Tosh apresentava muitas das qualidades que o tornariam respeitado: o vozeirão de barítono, uma pegada reggae na guitarra que influenciou muita gente e o discurso anti-Babilônia e pró-maconha que lhe trouxe vários problemas com a polícia (alguém pensou em Planet Hemp?).
"Live" apresenta algumas das performances ao vivo de Tosh. E que performances. Quando saiu dos Wailers, em 73, o cantor montou a Word Sound and Power com os melhores bambas dos estúdios jamaicanos, como Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, uma espécie de Pelé e Coutinho do reggae, o guitarrista de blues Donald Kinsey e o tecladista Keith Sterling.
Em shows que beiram o êxtase rastafari, o cantor manda alguns de seus maiores sucessos, como "Mystic Man", "Coming In Hot" e a versão chacundum para "Johnny B. Good", de Chuck Berry. O couro come solto com viradas fantásticas de bateria, o baixo rimbombando e a guitarra de Kinsey tocando fogo em tudo.
O último CD é "Hits & Classic Album Cuts", com faixas dos álbuns internacionais. Tem o duo com Mick Jagger em "Don't Look Back", regravação do clássico dos Temptations, o hino pan-africanista "African", as bravatas de "I'm the Toughest" e outra saudação à erva em "Bush Doctor".
Acima de tudo, "Honorary Citizen" mostra que, como reggae star, Tosh era perfeito. Cantava como poucos e tinha um talento nato para compor hinos libertários.
A caixa sabiamente deixa de lado o Peter Tosh de caráter dúbio, que roubou a casa de Keith Richards e deu calote nos empresários brasileiros, em 83. Fica só a música de qualidade incomparável. Afinal, até Bob Marley, tido como santo, já deu seus pulinhos em direção à Babilônia...
(SM)

Disco: Honorary Citzen
Artista: Peter Tosh
Lançamento: Columbia (importado)
Quanto: R$ 66
Onde encontrar: Nuvem Nove Discos

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