São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Sucata é a matéria-prima de Schwartz

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Torres de transmissão de eletricidade, 800 litros de óleo sintético isolante e 20 transformadores de 17 mil volts. Não, não é nenhum trabalho de engenharia elétrica, mas a instalação "High Voltage Harp" (Harpa de Alta Voltagem), que o artista norte-americano Barry Schwartz mostra hoje, quinta e sábado em São Paulo.
Conhecido como "homem elétrico", Schwartz mistura em suas esculturas/instalações eletricidade, fluidos, efeitos sonoros e imagens. Une tecnologias de ponta e outras primitivas. E tem, na manipulação das descargas elétricas, seu momento "showman".
A grande harpa que Schwartz apresenta na mostra "Arte Suporte Computador", da Casa das Rosas, deve tocar uma sinfonia bem incomum. Sons de água amplificados, o barulho produzido por metal congelando com nitrogênio líquido e ruídos extraídos do gelo seco são alguns dos acordes tirados pelo artista.
Os itens mais ortodoxos da peça são cordas de piano penduradas numa estrutura formada por antenas, que viraram torres de transmissão de eletricidade, instaladas no terraço da Casa das Rosas.
Embaixo delas, a tampa de uma caldeira industrial, de alumínio, se transforma numa fonte de óleo isolante, que funciona como uma produtora de energia hidroelétrica com a ajuda de transformadores de 17 mil volts. Outra fonte de óleo ficará no jardim do museu e todo o sistema será interligado por uma cascata.
A parafernália tem, ao todo, cinco toneladas. Uma delas, Schwartz trouxe dos Estados Unidos. As outras quatro, encontrou em ferros-velhos da cidade. Sua máxima é coletar "tudo que não está atrás de uma cerca".
Para dar um toque regional, ele enfeita a obra com cocos e outros badulaques tipicamente brasileiros. Por fim, a fonte de água da Casa das Rosas também vai receber microfones que amplificarão o som da água jorrando.
Na última sexta-feira, Schwartz subia e descia frenético as escadas da Casa das Rosas para montar sua instalação a tempo. Vestindo um macacão de trabalho, com o rosto e as mãos negras de sujeira, mais parecia um operário a comandar uma dezena de eletricistas.
Choque
Schwartz manipula até 17 mil volts de energia durante a performance. Só para dar uma idéia, um daqueles choques que de vez em quando se toma no chuveiro tem apenas 220 volts.
Para garantir a integridade física, conta apenas com um banho de óleo isolante (usado comumente para refrigerar transformadores de rua) e luvas de borracha especial (também usadas para a manutenção em redes de alta-tensão).
Uma das imagens mais impressionantes de Schwartz traz o artista segurando dois cabos de energia que produzem uma forte centelha, daquelas que dão vida à criatura nos filmes de Frankenstein.
Trata-se do transformador "Tesla coil" (espiral de Tesla), que produz descargas elétricas de até 500 mil volts. O aparelho foi criado por Nikola Tesla (1857-1943), físico e inventor iugoslavo, naturalizado norte-americano. Qualquer objeto condutor que passa perto é suficiente para produzir efeitos visuais.

O quê: High Voltage Harp
Quando: hoje, dias 20 e 22, às 21h
Onde: Casa das Rosas, av. Paulista, 37, tel: 011/251-5271
Quanto: R$ 2

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