São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Na rota da heroína

SERGIO DARIO SEIBEL

O Brasil nunca esteve ligado aos ciclos de produção e distribuição da heroína. Seu consumo era relatado de forma esporádica, sempre esteve restrito ao sudeste da Ásia, região responsável, até o início dos anos 90, por 100% da produção e exportação da heroína do mundo.
Tal quadro começou a se modificar nessa época, quando foram detectadas importantes plantações de sementes de papoula no altiplano andino colombiano.
Por questões ligadas à geopolítica do tráfico de drogas, as diversificações de culturas vêm criando um ainda incipiente mercado consumidor da heroína produzida nessas regiões, detectado no Brasil em cidades do Centro-Oeste que fazem fronteira com a Bolívia.
Estudo recente sobre a soroprevalência do HIV e outras doenças infecto-contagiosas em usuários de drogas injetáveis nessa região ("Projeto Brasil") mostrou ser de 17% a taxa de consumo de heroína na população estudada.
Em uma das cidades, na linha de fronteira, viu-se que trabalhadores brasileiros nas fazendas bolivianas recebiam seu salário em cocaína ou heroína. Cerca de dez gramas de heroína custavam R$ 20 na Bolívia. Esse preço dobrava ao atravessar a fronteira desguarnecida. Outras fontes nos referiram ser em torno de R$ 400 o valor da mesma quantidade de heroína em pontos de tráfico em São Paulo.
A heroína foi produzida pela primeira vez pelas indústrias Bayer, na Alemanha, em 1874. É um derivado semi-sintético da morfina, alcalóide isolado do ópio em 1806.
Como o nome indica, "heroisch" em alemão significa forte, potente. A droga era um poderoso analgésico, lançado no mercado para substituir a morfina.
A heroína foi, então, comercializada nas farmácias, e a propaganda enfatizava que ela servia de tratamento contra as fortes dores provocadas pela falta da morfina.
O tempo mostrou que os usuários de heroína tendiam a se tornar rapidamente dependentes. No início do século 20, com a interdição do uso para fins médicos, a produção da droga, até então legal, escoou-se para o comércio clandestino do tráfico. Com a interdição, houve uma explosão no consumo.
Nos anos 80, teve início aquilo que se tornou um boom de consumo de cocaína em nosso país. Mesmo assim, os responsáveis pelo planejamento de políticas públicas de saúde foram pegos desprevenidos -problema que, de certa forma, ainda perdura.
Hoje, com o impacto da Aids entre usuários de drogas injetáveis, fica o alerta. É preciso montar estratégias de redução dos danos causados não apenas pelos efeitos das drogas em si, mas pelas vias de introdução escolhidas.

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