São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Famílias têm de beber lama

ADELSON BARBOSA
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA

As 19 famílias da comunidade Cafundó, na zona rural do município de Maturéia (350 km a oeste de João Pessoa), enfrentam uma situação desesperadora.
Em Cafundó não tem energia elétrica, não existe emprego e o açude do qual os moradores bebem água e tomam banho secou. Só resta lama. Sem outra alternativa, eles são obrigados a beber a água lamacenta.
A água de outro açude existente em uma propriedade vizinha, pertencente a um deputado, é salobra, não presta para o consumo humano e também está secando. No açude de Cafundó, a lama é disputada também por animais como jumentos, bois e cães. Os moradores bebem a água lamacenta da forma como ela sai do açude.
"Bebo essa água porque não tem outra e não vou morrer de sede", disse a dona-de-casa Maria Irani Pereira Santos, 29.
A vizinha de Irani, Maria da Salete Paulo Pereira, 54, disse que os moradores de Cafundó querem comprar água, mas não têm dinheiro. Aposentada e recebendo um salário mínimo por mês, ela afirma que as pessoas de Cafundó são muito pobres e não têm dinheiro para comprar três carros-pipa por semana, que custam quase R$ 90,00.
Em Soledade, Maria José de Araújo Lima, 42, compra 200 litros de água para sua família beber a cada cinco dias. Ela pega a água para lavar roupas e louças, fazer comida e tomar banho nos carros-pipa da prefeitura.
Segundo ela, a água distribuída pelos carros-pipa provoca diarréia. A água esverdeada é consumida sem tratamento. "A gente ainda é feliz por ter essa água. O jeito é beber para não passar sede."
(AB)

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