São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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'Sempre soubemos aonde iríamos chegar'

DA REDAÇÃO

A gravadora Virgin cedeu à Folha uma entrevista concedida por Richard Ashcroft, líder da banda britânica The Verve, à jornalista inglesa Sasha Stojanovic, às vésperas de o álbum "Urban Hymns" ser lançado no Reino Unido.
Confira abaixo parte dessa entrevista com Ashcroft.
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Pergunta - Para começar, o que aconteceu com a banda depois que foi lançado o single "History", em 95, a canção que marcou o final do grupo em 95?
Richard Ashcroft - A banda acabou por causa de razões que não podemos responder. O que aconteceu foi que, depois de lançado o single, cada membro do Verve ficou esperando o que ia rolar.
Entramos em um período de velório. Eu fiquei fazendo coisas, escrevendo algumas canções, apenas para passar o tempo, para não parar e morrer. Porque não dá para ficar parado e morrer. Eu tive que continuar fazendo música, pois não sei fazer outra coisa.
Pergunta - Fale-me sobre sua canção "The Drugs Don't Work". Você se refere ao vício de amar uma pessoa tanto quanto sobre problemas com substâncias ilegais?
Ashcroft - As duas coisas, definitivamente. Definitivamente eu não sei.
Pergunta - O quanto autobiográficas são suas letras?
Ashcroft - São tudo facetas de minha personalidade. O que eu penso da morte e do amor. Parece muito natural para mim. É quando você começa analisar que não é mais natural. Quando eu ouvi pela primeira vez "The Druges Don't Work" na rádio, eu pensei: Oh!! Eu escrevi isso. Mas isso tudo é sobre o quê? Como é que as pessoas encaram isso?
Pergunta - A música "The Rolling People" fala do quê?
Ashcroft - O jeito que eu a criei em minha cabeça é como um filme de Tarantino. Funkadelic... "Rolling People" é a "Gimmie Shelter" dos anos 90.
Pergunta - Você disse que é o maior fã de sua própria banda. Qual é, em "Urban Hymns", a sua faixa preferida?
Ashcroft - É impossível escolher uma faixa predileta no disco. A minha cabeça muda todos os dias, sabe como é? É por isso que sou fã da banda.
Pergunta - Há uma faixa secreta no final do disco. Existe alguma história por trás dessa música?
Ashcroft - Toda vez que a gente acaba uma música nas gravações do estúdio, o Nick (McCabe, o guitarrista) não consegue largar o instrumento e continua tocando. E ele grava isso. Quando acabamos o disco, o Nick pegou essas gravações, levou para casa e escolheu os pedaços favoritos para colocarmos escondidos no disco. Isso representa o mundinho de Nick McCabe.
Pergunta - Como você vê o sucesso?
Ashcroft - Sucesso pode ser uma coisa assustadora, mas também algo muito inspirador. Sempre te leva para a frente. A gente é muito blasé sobre isso. Desde o primeiro dia da banda, nós sabíamos aonde iríamos chegar. Mesmo depois de ter nosso disco como o número 1 nas paradas, nós somos os mesmos. É uma emoção maravilhosa, mas continuamos sendo as mesmas pessoas.
Pergunta - Artistas como vocês devem tentar mudar atitudes no atual mundo da música?
Ashcroft - Nós nos sentimos sortudos. Muitas bandas de nossa geração não consegue um contrato para gravar. Não contratavam bandas de rock. Aí você se acomoda com a coisa toda. Depois começa a perceber que pode mudar.
Pergunta - Há uma linha em "Bitter Sweet Symphony" que diz: "Mas as ondas do rádio vêm vazias e não há ninguém cantando para mim agora". É como você se sente? Não há ninguém na música de hoje que vocês admirem?
Ashcroft - Sim, tem gente que faz boa música atualmente. Mas a esmagadora maioria é dirigida pelas ondas de rádio. São muito superficiais, rasas. Olhando para trás tinha gente como Kurt Cobain fazendo música. Isso sim era puro.
Pergunta - Finalmente, como você se sente sobre todo o caso envolvendo seu uso sampleado da música "The Last Time" em "Bitter Sweet Symphony"(um ex-empresário dos Stones foi à Justiça contra o Verve e ganhou todos os direitos de venda sobre a música)?
Ashcroft - Algo saiu errado nessa história. Seria justo que acabasse 50% para cada, eu ainda ia ficar bem puto. Mas, em nome do correto, nós deveríamos ter pago, sim. Mas 100% é escandaloso.

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