São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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País precisa de abertura política, diz estudioso

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para combater os grupos terroristas islâmicos do Egito, não bastam duras medidas de segurança. O governo precisaria promover a abertura política, reduzir as diferenças econômicas existentes no país e facilitar o acesso da população à informação e à cultura.
Só assim poderia coibir a ação de grupos como o Gama'a al Islamia (Grupo Islâmico), liderado pelo xeque cego Omar Abdel Rahman e que assumiu a autoria do atentado de anteontem.
A opinião é do cientista político egípcio Dia Rachuan, 40, do Centro de Estudos Políticos e Estatísticos, ligado ao grupo de comunicação Al Ahram, um dos mais importantes do país.
No instituto, Rachuan é responsável pelo estudo dos movimentos religiosos egípcios e de outros países do Oriente Médio, resumido numa publicação anual.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida ontem à Folha, por telefone do Cairo, capital do país.
*
Folha - Quais são os grupos terroristas egípcios?
Dia Rachuan - Existem dois grupos. O primeiro, o Gama'a al Islamia, é o maior. Possui uma organização secreta e, ao mesmo tempo, um braço político. Baseado no sul do país, é o responsável pelos ataques a turistas ocorridos desde 92. O segundo grupo, a Jihad, é uma organização secreta, clandestina e paramilitar, cujo alvo predileto são os políticos.
Folha - Eles possuem uma coordenação central?
Rachuan - O Gama'a al Islamia tem uma direção central, mas, recentemente, surgiram alguns pequenos grupos que não querem se submeter a ela. Acredito que um deles é o responsável pelo ataque.
Folha - Por quê?
Rachuan - Em 5 de julho último, alguns dirigentes históricos do Gama'a se declararam, desde a prisão onde estão detidos, favoráveis ao fim da violência. Mas a decisão não foi aceita por certos grupos foragidos nas montanhas e nos campos do sul do país. Na minha visão, uma dessas facções rebeldes decidiu realizar uma ação suicida.
Folha - Quem financia o terrorismo no Egito?
Rachuan - Fala-se muito sobre a possibilidade de os grupos obterem financiamento em outros países ou de organizações internacionais. Ninguém conseguiu provar. Mas é preciso dizer que esses grupos, em especial o Gama'a, estão baseados em regiões onde a estrutura social -dominada por conflitos familiares e tribais- facilita o acesso a armas e munição.
Folha - De que maneira o governo deve reagir ao terrorismo?
Rachuan - O governo precisa tomar medidas excepcionais. Mas, para enfrentar o terrorismo, também são necessárias outras medidas. É preciso abrir a vida política do país e legalizar todos os movimentos que aceitam a alternância e o princípio da democracia. Isso inclui os grupos islâmicos moderados, que têm o direito de agir politicamente.
O governo, porém, parece não querer competir com eles e os mantêm na ilegalidade.
Em segundo lugar, é preciso atacar o subdesenvolvimento de algumas regiões, entre elas o sul do país. Por fim, é preciso aumentar o acesso da população à cultura, o que reduziria a influência de grupos radicais.
Atualmente, boa parte dos egípcios não tem acesso a livros, aparelhos de televisão, computadores. O Ocidente poderia ajudar nisso.

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