São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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'PrOmisQuidade' explode cultura de massa

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"PrOmisQuidade" é um título que é um problema. A peça de Pedro Vicente, que estréia hoje no Centro Cultural São Paulo, leva o nome menos pelos excessos sexuais de seus três personagens (um homem, duas mulheres) e mais pela promiscuidade que se dá dentro das mentes deles.
Recebem informação demais, mais do que gostariam, e encontram-se para a promiscuidade primeira -a sexual, que, sim, eles têm aos montes-, mas também para arquitetar o que o Unabomber executou: o terrorismo contra a cultura de massa.
No cartaz/programa do espetáculo o jovem autor, que escreveu e montou "Banheiro", de 95, faz o que a diretora Marcia Abujamra chamou ironicamente de um manifesto contra a "informação invasiva".
Faz a apologia do terror contra "a faxina cerebral promovida pelo império eletrônico e econômico da falta absoluta de escrúpulos: a cultura de massas".
Que ninguém espere, porém, mais um libelo contra a depauperação cultural da humanidade, causada pela televisão, a Internet, os shopping centers, enfim, os americanos. Pedro Vicente e seus personagens sabem que "já estão completamente infectados".
Se você insiste, ele dá uma justificativa esfarrapada, de que é referência indireta a quiproquó, pois se trata -a peça- de uma confusão, de um equívoco. Mas é o erro que o diverte.
Pedro Vicente, 30, com seu "manifesto", seus objetivos, é um autor com mão para o humor, a comédia. O texto que estréia hoje recebeu uma leitura dramática no ciclo da Folha, no ano passado, e provou já então seu poder de fazer rir, para além de qualquer crítica social envolvida.
Já foi assim em "Banheiro", que ficou quase um ano em cartaz e viajou ao Rio, e deve ser assim no texto que ele diz estar escrevendo. O título seria "Disk Ofensa", em que se disca 1 para ofender Paulo Maluf, 2 para Hebe Camargo e por aí vai.
Influências? Não as tem muitas. Leu Plínio Marcos, leu "todo mundo", mas não consegue identificar. "Eu gosto do Qorpo Santo, porque ele é muito louco." Louco, no caso, de pedra -para alguns, como o historiador e crítico Décio de Almeida Prado, nem propriamente um dramaturgo.
Pedro Vicente não escreve como Plínio Marcos, ou como Fernando Bonassi, contemporâneo mais próximo, com personagens tirados da periferia, sacrificados. Escreve sobre jovens urbanos como ele, classe média. "São pessoas em que as influências da mídia e do consumo são muito fortes."
Foi assim, sobretudo, em "Banheiro" e no seu cinismo. Em "PrOmisQuidade", acredita, Léo, Léa e Madalena poderiam ser "qualquer um". O realismo prossegue, mas agora mais restrito ao coloquialismo de homens e mulheres que "andam de carro, vão ao Detran", coisas assim.
Fernando Alves Pinto, seu irmão e o protagonista do filme "Terra Estrangeira", interpreta Léo. É o primeiro trabalho do ator em teatro, depois de um acidente de bicicleta que quase tirou sua vida, no ano passado.
Lavínia Pannunzio faz Léa, e Regina França, Madalena. Inteiramente "pós-modernos", os três personagens esforçam-se numa relação a três, um triângulo amoroso com ecos dos anos 60.
Até dois dias antes da estréia, Vicente ainda não tinha o final.

Peça: PrOmisQuidade
Autor: Pedro Vicente
Direção: Marcia Abujamra
Cenografia: Daniela Thomas e Marcelo Larrea
Música: Théo Werneck
Quando: qui a sáb, às 21h30; dom, às 20h30
Onde: Porão do Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611, ramal 250)
Quanto: R$ 12

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