São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Morador apela para a oração

DA REVISTA DA FOLHA

Se o Estado não ajuda, alguns moradores têm apelado à igreja. Há um mês, começaram um movimento de orações para afastar a prostituição e "converter" os travestis.
Até agora, 20 moradores já cederam suas casas. Eles se reúnem toda semana com o padre Antônio, que não quis revelar o sobrenome, diante de um altar improvisado para rezar o terço.
Sentados em círculo, entoam cânticos embalados pelo violão do religioso. Depois da música, há um sermão. Na semana passada, o padre disse: "Já apelamos a todos os meios legítimos para acabar com a falta de decência e o homossexualismo do nosso bairro. Nada adiantou. Então, só nos resta rezar".
O padre Antônio diz, em sermão, que o seu bairro (Ibirapuera) está infestado de burgueses frustrados sexualmente que correm como baratas atrás de travestis.
No final da sessão, o padre põe a batina e abençoa a casa. Ele acredita no efeito das pregações. "Quando eu trabalhava em Curitiba, fizemos o mesmo movimento para acabar com o tráfico de drogas e deu certo", diz.
Alheio aos apelos divinos, o aposentado Laércio C. A., 72, morador de Indianópolis há 50 anos, não esconde a raiva: "Já que a polícia não resolve, as leis não adiantam, o governo não ajuda, o jeito é cada morador pegar um, quebrar o pescoço e jogar no rio Pinheiros."
Outro vizinho ecoa: "A situação chegou a tal ponto que eu estou pensando em comprar creolina e jogar em frente à minha casa para espantá-los."

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